BRINCADEIRAS DE CRIANÇA V: Alguns dos jogadores (chamam-lhes juizes) tentaram explicar isso àquele que queria alterar as regras - o tal Ministro da Justiça - mas ele não percebeu e, com aquele ar arguto e à frente de todo o público, chamou-lhes preguiçosos, mesmo aos que mais se esforçavam por ganhar jogos, o campeonato, a taça, aqueles que se esforçavam para oferecer às estatísticas desportivas do Ministro bons resultados. Mesmo assim, tentou-se ainda pacientemente explicar uma regra óbvia ao Ministro, julgo até que com recurso a desenhos: o jogo tem de estar em funcionamento para todos ao mesmo tempo, e parado para todos ao mesmo tempo. As coisas não funcionam se estiver a funcionar para uns e, ao mesmo tempo, parado para outros. Nem faz sentido, isso.
Qualquer leitor de 6 anos já teve esta experiência, a do colega batoteiro que perante uma sucessão terrível de bolas pára o jogo clamando "pára, pára, tenho de ir ao quarto de banho!" ou "não podias começar já, ainda não estava preparado!" Num jogo de ping pong, este tipo de coisas ainda se pode aceitar mas na Justiça não. Há uma altura em que todos têm de estar preparados, haja o que houver; há uma altura em que se pode respirar e ir fazer o tal xi-xi.
Como os desenhos não tinham funcionado, o Conselho Superior do MP elaborou um parecer escrito e em linguagem simples onde tentava explicar ao Ministro que era impossível que todos os jogadores (e nem incluía nesse grupo a selecção dos advogados) fossem ao mesmo tempo fazer xi-xi no mês de Agosto. Para que houvesse sempre jogos na arena durante os 365 dias do ano - e em particular no mês de Agosto - seria sempre necessário, no mínimo, que os jogadores dependentes do Estado fizessem as férias entre o dia 15 de Julho e o dia 31 de Agosto. E, mesmo assim, só se conseguiriam ocupar as mesas de ping pong mais urgentes, por turnos, nunca aquelas que o Ministro pretendia.
Este último, na altura já completamente desembastado e confundido com o emaranhado de regras, ainda sem perceber bem onde tinha ido meter a colherada, disparou furiosamente dizendo que os jogadores (os dependentes do Estado, recorde-se) poderiam então ir fazer as suas férias e os xi-xizitos que quisessem a partir de 15 de Julho, mas que os jogos continuariam a realizar-se até 31 do mesmo mês. Nesta fase começou a pensar-se se haveria juízo no Ministério da Justiça: poderão fazer-se os jogos se uns quantos jogadores estão de férias e os outros não? Como é que é? Jogo contra quem? E porque é que aquele menino tem mais tempo do que eu? Também quero ir fazer xi-xi!
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