CONTINUAÇÃO: Um simpático leitor anónimo envia-me um texto que explica a impossibilidade do diálogo com os novos cavaleiros do apocalipse, dado que estes não se organizam de nenhuma forma inteligível. O Pedro Picoito do Mão Invisível, responde ( agora sim) às minhas teorias sobre o diálogo com o terror, dizendo essencialmente que a acção militar é prioritária contra os ratos de esgoto. Na medida exacta das minhas insuficiências, vamos a isto. Um aspecto interessante desta história, é que conhecemos razoavelmente o arsenal dos "bons" tanto quanto conhecemos bastante bem as limitações ao seu uso. Apesar de todas as críticas, os EUA, por exemplo, não podem apagar da face da terra um território de digamos 1000 km2, apenas porque julgam que este inclui 50 operacionais da Al Quaeda. Ora, a zona de incerteza ( roubando o termo a Crozier) é toda do lado dos "maus". Não sabemos o que têm ou o que tencionam utilizar, nem quando, nem como. Pode o Pedro dizer que os serviços de informação não dormem, eu direi que pelo menos sonham acordados, como nos fatídicos dias de Setembro, Março e Julho. Por outro lado, se há uma lição a tirar do ataque às Twin Towers, é a de que sobrestimamos o julgamento moral dos "maus". Por fim, o argumento de que a Al Quaeda é uma rede não-convencional e porquanto incapacitada de entabular negociações é desmoralizante: se assim é, também é incapaz de ser vigiada e travada. Outro aspecto, o que mais me atrai, é o político, e é aí que entra a negociação. O meu ponto de partida é que em todos os confrontos da História, houve, em algum momento, negociação. Só não se sabe quando, mas sabe-se que se tem de negociar. Ora, as boas regras e o bom senso mandam que se evite negociar numa posição de extrema fraqueza. Parto do pressuposto, curioso que sou sobre a génese deste apostolado profissional do Islão fundamentalista, que os rapazes, mais dia menos dia, farão alguma coisa que pode deixar os "bons" em muito maus lencóis para negociar. Eu sei que existe a questão moral, eles são ratos de esgoto. Mas qual de nós, assolado por uma praga de ratos na nossa biblioteca, desdenharia negociar? Responda-me o Pedro, francamente. A Al Quaeda atacou em 1993 uma das Twin Towers e oito anos mais tarde voltou lá para fazer o que se sabe. Entretanto, destruiu as embaixadas americanas no Quénia e na Tanzânia. Depois Madrid e Londres. Dizia Isaiah Berlin que antes de tentar mudar o mundo, é preciso compreendê-lo. Uma escalada militar impede essa tentativa de compreensão, oferece pólos de sedução aos mártires e pretextos à quinta coluna. Negociar, ganhar tempo, obter informação, expor identidades, é coisa para homens de barba rija e narizes treinados.
(Depois existem outros pontos fulcrais, que se prendem com a pobre leitura que os EUA fazem do árabes, mas isso ficará para mais tarde.)
Caro Anónimo: Tem razão. Eu já aqui trouxe várias vezes as contribuições e os desejos de intelectuais islâmicos moderados, desde bloggers iranianos até figuras como Karim Abdel Souroush ou Fátima Midrissi. É essencial ajudá-los, mas tal é apenas uma parte da questão. Voltarei à coisa assim que puder.
O facto de ultimamente os ataques da Al Qaeda terem aparentemente sido cometidos por jovens radicais mais autónomos, não pertencentes ao círculo duro e vísivel das comunidades islâmicas establecidas na Europa, mormente em Londres, significa antes de mais, que de alguma forma estes últimos se sentem vigiados e contolados pelo poder policial(ao contrário do que acontceu durante anos).
Ou seja, apesar de tudo, está a dar algum resultado a acção desenvolvida pelas forças de segurança.
É certo que o mote da AlQaeda é a constante transformação na forma de desenvolver as suas acções, pelo que a policia tem que estar sempre up-to-date com a imaginação tortuosa desta gente.
Eu acho que a "solução" terá de consistir em duas vertentes, com absoluto e igual peso:
-por umm lado as forças de segurança terão de se agilizar permanentemnte no tipo de controle preventivo a realizar às comunidades muçulmanas, distinguindo o trigo do joio, utilizando infiltrados e adaptando-se contínuamente aos meios utilizados pelos potenciais teroristas.
-por outro lado, os governos têm absoluta obrigação de apostar em gente que faça parte de comunidades islâmicas moderadas, ou que conheça os seus elementos, que saiba dizer quais são os imãs moderados e os que, ao contrário, andam a pregar a Jihad em mesquitas clandestinas fora de qualquer controle...
É vital mostrar aos jovens muçulmanos que é "cool"(!)misturar-se com outros de origens diferentes, que é bom sair à noite com rapazes e raparigas de raças e credos diferentes, e que não faz qualquer sentido passar o seu tempo a congeminar formas de destruir a diversidade das culturas cosmopolitas das cidades.
Esta última ideia é ferozmente defendida pelo tal David Ugarte de quem eu lhe falei, sendo ele próprio um desses jovens, de origem marroquina(mãe espanhola, pai marroquino)que conheci em tempos em Madrid.
Ele acha que é por aí.
E eu, prefiro que seja por aí do que sentar-me a uma mesa com os ideológos da destruição dos valores da liberdade e da democracia.
"É vital mostrar aos jovens muçulmanos que é "cool"(!)misturar-se com outros de origens diferentes, que é bom sair à noite com rapazes e raparigas de raças e credos diferentes, e que não faz qualquer sentido passar o seu tempo a congeminar formas de destruir a diversidade das culturas cosmopolitas das cidades."
Lindo...
Vamos é ver se não nos ensinam eles como conquistar meia duzia de virgens, e como salvaguardar o futuro dos nossos familiares...
Esse caminho só assegurará que outros o seguirão. Tal como estes seguiram as pegadas de Arafat&Co. devido ás recompensas dos homens politicos e diplomatas.
Depois da Al-queda terás os neo-nazis e outros a seguir, funciona = novos seguidores ---------------------------------- "Apesar de todas as críticas, os EUA, por exemplo, não podem apagar da face da terra um território de digamos 1000 km2, apenas porque julgam que este inclui 50 operacionais da Al Quaeda."
Podem, podem a zona de incerteza do lado dos bons é essa. Ataques punitivos funcionam. Ao intimidar as elites com algo a perder. Está demonstrado pelas ditaduras que funciona.
"Por fim, o argumento de que a Al Quaeda é uma rede não-convencional e porquanto incapacitada de entabular negociações é desmoralizante: se assim é, também é incapaz de ser vigiada e travada."
É desmoralizante por isso não conta? O retrato dos diplomatas de gabinete que vivem no mundo virtual.
Não é nada incapaz de ser travada. A Al queda não tem capacidades de controlar porque não tem dimensão para isso. Um mundo árabe forçado a fazê-lo para sua sobrevivência não deixaria pedra sobre pedra no esgoto.
Não sei quando acontecerá nem onde e espero que esteja enganado.
Mas não estamos a lidar com a URSS, e algum dia vamos descobrir isso da pior maneira. A escada da violência só pode ter um fim. Ou nos rendemos e encontramos um ponto de compromisso, vestindo véus ás nossas esposas e filhas e recitamos o alcorão.
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