DELENDA CARTHAGO: Há uma espécie de obstáculo passional-semântico em torno da palavra negociar. O Ocidente, tolerante e democrático, não negoceia com terroristas, ponto final. Perdão: não negoceia com estes terroristas ( com todos os outros já o fizemos). Cum granum salis:
a) Quem são estes terroristas? b) Não negociamos com eles porque não sabemos onde estão os chefes ou porque os serviçais morrem no local? c) O que é o "Ocidente"? Rumsfeld ou Zapatero? Nietzsche ou a Madre Teresa de Calcutá? d) Há quanto tempo começou o "Ocidente" a ser tolerante e democrático? Antes ou depois de Auschwitz? e) Não querendo negociar, quem estará disposto a varrer do mapa todo e qualquer ninho de baratas, à dentada, se for necessário? f) Irá organizar-se um Corpo Expedicionário? Vão todos ou só os adultos? g) Quantas vezes se reerguerá a nova Gomorra? Voltaremos a tempo de ver os netos ou somos todos herdeiros de Ulisses?
è óbvio que dizer-se que se tem de atacar à dentada é coisa tão vaga como dizer-se que é preciso negociar.
Mas agora faço de novo a pergunta de caras:
acreditas como muito bom teórico que já existem negociações no terreno entre os serviços secretos americanos e os homens de topo da Al-Qaeda?
aqui é que se centra tudo.
Fora isto volto à pergunta lixada a que todos assobiam para o ar:
Num tipo de terrorismo cujo principal ataque foi o do 11 de Setembro, cujos antecedentes políticos mais directos apenas se podiam reportar ao apoio político a Israel, será possível negociar alguma vez algo menos que isto: Israel?
E quem é que negociaria Israel? como? e quem permitia?
Espera e verás, se a democracia não conseguir combater por razões "humanistas" nesse caso será o fim da democracia , neste momento não está muito preocupada em acabar com a guerra e entretêm-se em seguir as pisadas dos Israelitas. ... Se se mantiver virão outros.
Um pequeno contributo para a compreensão das causas, aparecimento e fácil recrutamento de terroristas.
"Argel, 14 de Setembro de 1953 ? As duas bofetadas que um polícia francês acaba de dar na minha frente a um nativo vagabundo hão-de custar caro à França. Até me pareceu ver o céu claro da Argélia abrir-se ligeiramente, e Maomé tomar nota do caso no canhenho de represálias. Esta cartesianismo europeu não se convence de que toda a forma de colonialismo é imoral, seja ela a mais progressiva materialmente e a mais codificada socialmente. De que à universal e tentacular presença civilizadora do cristianismo falta sempre um dos lados do diálogo: a opinião do indígena. Que pensa ele do benefício? Que disse o inca no Perú, o asteca no México, o negro em Angola? Que diz o árabe, aqui? Interessa-lhe mais a penitência na cruz, ou a volúpia do crescente? Prefere ver as formas, ou adivinhá-las? Claramente que nunca passou na cabeça dos apóstolos fazer a pergunta. Armados até aos dentes e senhores duma técnica manual e mental demoníaca, julgam ocioso fazê-la. Mas todo o submetido responde, mais cedo ou mais tarde, mesmo sem ser interrogado. Embora a séculos da agressão, os incas estão a responder, e os astecas também, e os negros também. E não me parece que o mundo islâmico se cale, túrgido como o vejo, com todas as energias represadas nas dobras do albornoz. Na voz salmodiada dos velhos muezins, que desce dos minaretes e repercute multiplicada e rejuvenescida nas gargantas adolescentes, no silêncio duma Casbá onde a alma forasteira penetra como lâmina em bainha sem fundo, no bulício das feiras que a miséria circunda dum halo de comício, o espírito ocidental suspicaz surpreende a força incoercível duma região a que já nada de autêntico temos a opor, e o ódio de uma vontade humana que nunca se concebeu esmagada. Mais do que o poder dos engenhos de repressão, do que as seduções dum progresso que atropela as essências, vale a obstinação dum versículo que se estampa nos olhos, depois de ser carícia nos lábios e friso caligráfico nas mesquitas. E mais ainda do que ele, vale a liberdade. O gosto de ser livre diante do próprio deus."
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