GUERRAS ( I) : O paroquialismo e o provincianismo são as formas europeias da jihad: resistência da periferia contra o centro e contra o cosmopolitismo, estou de acordo com Benjamin Barber, pois que bebemos na mesma fonte, Eisenstadt. E curiosamente foram duas formas de resistência à Modernidade, fosse esta a dos direitos das mulheres ou do lobo ibérico. Qual a linguagem desta jihad europeia? Ódio, temor, em alguns casos extremos ( ETA, IRA, Córsega), violência activa. Quer se queira quer não, existiu nos casos citados, uma ligação ao território inscrita numa critica da cultura. O outro caso, o islâmico, apresenta uma novidade: um fundamento religioso, por sua vez enroupado num território distante, tornado próximo não pela TV, mas pela presença dos cadáveres em solo europeu. Tanto bastou para que se tivessem por certas duas premissas: a) O ( único?) Islão bom é o Islão moderado. b) Há muçulmanos bons e muçulmanos maus, sendo os primeiros claramente mais frequentáveis. Lamento dizê-lo, mas esta é uma abordagem claramente neo-colonial, reservando o termo pós-colonial para o corpo de estudos gerado a partir das descolonizações. É uma abordagem neo-colonial porque pretende representar o oriente próximo ( de nós) como devendo-ser: moderado, secular, democrático. Durante todo o século XIX ( basta ler o Divan de Goethe ou o Livro da Selva de Kipling), o Oriente foi representado como outra coisa, como algo de diferente, e por isso devendo ser conquistado. Até Marx disse, a propósito dos indianos, e malgré o aparelho colonial britânico : não se sabem representar, têm de ser representados. Esta é a cartilha pós-colonial. Mas se assim o pensamos, assim o fizemos, como se sabe, Pois bem, duas partes de guerra depois, a segunda metade do século XX assistiu à exportação da laicização sobre um espaço desfigurado. O resultado, no Irão, foi emblemático: regresso às origens, aquelas origens que administração colonial, apesar de tudo, nunca removeu: Deus, tradição, recusa da Modernidade. Era disto que Massignon falava, quando preconizou um duelo final. A blogosfera iraniana - até porque afastada da militância sunita - é um campo elucidativo para compreender o embaraço: que fazer? Um dos pontos é este: estando em curso uma guerra, como relembrou Pacheco Pereira ( e agora parece que já há gente a concordar com isto), é uma guerra de quem contra quem? Do Ocidente civilizado com um grupelho de fanáticos, dizem alguns, muito sérios. Mas desde quando é que uma cultura inteira, uma civilização, chamem-lhe o que quiserem , guerreia um grupelho de fanáticos, ou vice-versa? Tomar estas acções unicamente pelo seu tenebroso valor facial - mortos e destruição - é o que nos leva a não compreender como pode um inglês, Mr Khan, empregado numa creche, tornar-se um bombista suicida. Há uma guerra, sim. Uma guerra surda, viela a viela, na qual os terroristas são apenas um dos esquadrões mortais. Negociar nesta guerra, significa negociar viela a viela, letra a letra, homem a homem. Significa estar disposto a ceder na exportação da tradição iluminista ocidental, nas representações do muçulmano como-ele-deve-ser. A Europa, noutro tempo, e já no da secularização e do primado da Razão, aceitou negociar o mundo, mudando-o apenas o quanto baste para se poder servir dele. Agora, terá de aprender a negociar para sobreviver a ele. Enquanto os muçulmanos que vivem em Montpellier ou em Leeds, puderem viver pela Fiqh, em ilhas "culturalmente diversas" como dizem os humanistas, os que ainda vivem em Bassorá ou em Kabul serão apenas náufragos-orfãos: têm a Fiqh, mas não a ilha (da segurança social). A verdade da linguagem é uma colecção de metáforas e de repetições funcionais: negociemos com tudo o que se mexa, negociemos com líderes islâmicos de madrassas europeias, negociemos com oulemas desavindos da ortodoxia, negociemos com alguém que esteja disposto a deixar de ser terrorista. Mas para além do terror assassino, há uma coisa com a qual não se negoceia; com a História. Pretender que o mundo começou em 1948 é um péssimo começo; pretender que se está em guerra apenas com um bando armado, um péssimo fim.
ó FNV, ia jurar que temos uma coisa em comum: a casmurrice. Embicaste com a palavra negociar e agora tens de a justificar "á lei da bala" ";O)) e até vais dizendo umas coisas interessantes que nada têm a ver com a historieta do negócio marista. Mas és casmurro ahahha
Patetices, erros de concordância e um chorrilho de asneiras dignas de um Boaventura...
"Islão bom é o Islão moderado"
Resposta:"negociemos com oulemas desavindos da ortodoxia" é o quê?
"Há muçulmanos bons e maus"
Resposta:"negociemos com alguém que está disposto a deixar de ser terrorista"
hmmm
"Abordagem neo-colonial"
Para quem passou de pós-colonial(?) a neo-colonial em uns parágrafos...
É simplesmente a abordagem civilizacional. Há uma grande diferença entre guerrear porque queremos ou guerrear porque é uma ameaça. Um dos fundamentos da civilização é que matar alguém não é sempre ilegal ou injusto.
Depois o autor finge que explica qualquer coisa do Neo-colonialismo Vs Pós-colonialismo. O texto nem sequer tem concordância.
Fala da blogosfera Iraniana que é uma das provas da laicização e da existência de 2 Islãos dando um tiro no pé.
Uma referência gratuita e extemporania (mais uma) á existência de uma guerra quando mais sabe o autor que para quem recusa a negociação já está implicita a existência de uma guerra.
"Grupelho de fanáticos" Como começam todos os movimentos? o Fascismo não começou com um grupo de fanáticos, idem para o Nazismo, Comunismo?
"ilhas culturalmente diversas" Mais fumo para confundir ...ilhas culturalmente diversas inclui canibalismo por exemplo? Há ou não um limite ás diferenças culturais? Agora os "humanistas" concordam com a violação dos direitos humanos.
Acrobacias intelectualmente desonestas, o autor confunde doutrina com acção faz um profissão pós-colonial no início do texto que passa a neo-colonial no fim.
ou então o autor está-se a rir a bandeiras despregadas e isto é só um divertimento de Verão...
eu não concordo com muita coisa que o lucklucky diz mas tenho de reconhecer que desmonta bem este modo de pensar à "homem de letras" sorry mas é uma categoria que se usa cá em casa e que não deixa de ser funcional.
De facto é um tremendo de um disparate falar-se no "outro" com direito à sua diferença ou no neo-colonialismo e pós-colonialismo e ocidentalização à força quando a questão é comezinha: se fossem canibais ou pigmeus bem que se podiam amanhar no caldeirão ou à dentada que não vinah daí mal ao mundo.
Claro que este "outro" não é menos "Humano" que o pigmeu. Pois não. E ainda por cima tem a faca e o queijo na mão (leia-se: a torneira) Fora os que têm a torneira e o armamento e até são parceiros estratégicos (ainda que seja daí que vem o principal- os emiratos árabes).
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