NEGOCIAR ( outra vez): Se continuarmos a imaginar os esquadrões da morte como orgãos independentes, não faz sentido negociar. Se tivermos a coragem de compreender que eles são estruturas articuladas com os poderes árabes, já faz. Em Setembro de 2004, Al-Zarqawi publicava um textinho de 4000 palavras, no qual a páginas tantas avisa os governantes árabes que eles são coniventes com o infiel: "you will go to".
Seu casmurro, não és mais do que eu e vou-te dizer o que já disse ao Lutz; 1- Se estamos perante um sequestro há possibilidade de negociar. È isso que se faz sempre porque há uma reivindicação 2- Se estás perante algum tipo de terrorismo libertário, tipo ETA ou IRA, mesmo que não reivindiquem na altura já o reivindicaram antes: querem a autonomia de determinado território. 3- Se estás perante terrorismo palestiniano, tens possibilidade de negociar (é o que eles fazem, para além de retaliarem de forma idêntica) 4- Se estás perante terrorismo de louco mais vago tipo Sendero ou Seita do Sol ou unabomber não podes negociar (dar nada em troca para evitar) porque não pedem nada de concreto antes. A acção destina-se a fazer explodir- o que motiva a acção podem ser mil e um motivos mas nenhum deles pode ser impedido a menos que se conhecesse os autores e os tivéssemos internado antes dos ataques. 5- No caso presente a coisa anda perto. A Al-Qaeda funciona de forma demasiado autónoma para se poder ?agarrar? e os intuitos são demasiado vagos e têm vindo a mudar (há décadas- não apareceu agora) conforme as oportunidades. Os últimos exemplos, quer de Madrid quer de Londres mostram precisamente isso- funcionam com pés rasos recrutados em terceiras ou 5ªs vias e bem longe do golpe de 11 de Setembro (esse sim um fenómeno a pensar dado o gigantismo e desproporção de motivos- os EUA nem sequer estavam a invadir ninguém). 6- Por isso, quanto a mim, restam apenas as seguintes alternativas na leitura desta treta: a) É um fenómeno político com países e interesses geo-estratégicos envolvidos (eu digo que não. Que só o é em parte uma vez que todo o Islão se revê na Al-Qaeda mas na prática pode albergá-los às escondidas mas nunca reivindicou os seus actos). b) Sendo um fenómeno político já existem há muito contactos e ?diálogos? entre os poderes e a organização- Esta é a teoria da conspiração com muitos adeptos que, no entanto, não têm grande lata para o dizer às claras. Neste caso, acreditando que os contactos são mais que óbvios (Bush-Laden, famílias, money, jipes no deserto, and so on) a reivindicação do Mário Soares parece-lhes mais que óbvia. Também ele estaria a par dos bastidores e o que disse mais não era do que reivindicar a mesma oportunidade. c) Os intermédios entre o político e o religioso que acreditam em negociações de cariz político- O que se poderia dar é simples. Não bastaria a retirada das tropas do Iraque porque não foi por causa de nenhum Iraque que se deu o 11 de Setembro. O que era preciso e ninguém tem lata para dizer porque parece feio era largar os judeus às feras. E mais nada. d) Por último há outras posições como a minha que não vê o fenómeno apenas com uma ligação causa-efeito e cedência concreta porque, acima de tudo, é um fenómeno mediático e de reprodução fácil por mimetismo que tende a replicar-se nos lugares e ocasiões onde é possível. Por muito suposto plano único que existisse está condicionado por cá, às possibilidades e variantes que cada um lhe queira dar. O mais provável não é desaparecer por suposto negócio mas reproduzir-se em variantes múltiplas incluindo as causas gratuitas ou os ataques que não implicam suicídio.
Por último. As frases do Mário Soares: não conseguiria nunca embarcar nelas sem que este fosse obrigado a falar claro e a explicar tintim por tintim o que queria dizer com o negociar. Com quem , o quê, como. Se nunca o fizerem e continuarem com este tipo de palavras ocas em tom de ideológico, assim como os JPPs e quejandos que usam o mesmo tipo de linguagem vaga belicista sem dizer como nem onde nem quando, sou obrigada a depreender que é campanha ideológica e mais nada. E pega. E funciona porque há sempre quem viva de palavras.
P-S. e repito. Não conseguem continuar com estes malabarismos de negócios políticos sem dizerem claramente que o que há a fazer é largar Israel às feras.
E isto não é nenhuma boca emotiva- é uma mera constatação lógica que todos guardam no bolso
Agora o que acho necessário de forma mais que básica):
Separar a política externa do efeito mediático e das pressões interpretativas do dito terrorismo. A guerra do Iraque foi um tremendo fiasco de diplomacia e teve alianças políticas que funcionaram por adesão a fantasias ideológicas mais do que meras adesões de interesses políticos e geo-estratégicos que existem sempre.
Quanto a Israel e Islão imagino que pode acabar todo o resto do mundo e esses ainda continuem em contenda. Por isso creio que não vale a pena fazer muito ou tentar imaginar que se resolve qualquer coisa sem resolver o que não tem por natureza resolução.
este fenómeno do terrorismo sem rosto (que pode sujeitar as alianças externas à política interna) é bem capaz de levar ao que já se está a assistir por outros modos: divisão do que se pretendia coeso; cada um a cuidar de si. Tentativas de voltar-se ao que já não é possível: fronteiras demarcadas.
Eu acho que os terroristas não estão propriamente articulados com os Estados árabes. São apenas por ele tolerados (Arábia Saudita, Síria, etc, ou dominados por extremistas: como por exo no Irão, Paquistão).
O que que os estados árabes têm é de ter coragem para se democratizar e simultâneamente não albergar terroristas.
Grande Filipe, Os teus argumentos são pensados, consistentes e interessantes. Apenas perdem fulgor por estarem a ser usados para justificar uma expressão: "negociar". Tu e os teus contrapartes nesta pugna argumentativa estão ancorados em torno dessa expressão. E infelizmente dái não saem. O que nos tens dito é muito mais interessante e importante para a compreensão do problema do que a troca de argumentos sobre uma proposta política: a da negociação. Até porque essa proposta é uma originalidade portuguesa (ninguém discute isso a sério nos outros países ocidentais. Talvez não tenham a capacidade dos portugueses para entender outras culturas ou o que lhes querem dizer). Esta originalidade explica-se pelo (merecido) peso político de Mário Soares) mas não me parece ter sido muito bem pensada. Foi o produto de um raciocínio simplista de clara inspiração marxista (uma espécie de marxismo popularucho). A saber, pobreza=exploração (pelos ricos ou pelos detentores dos meios de produção) que conduz inevitavelmente à revolta=terrorismo - voilá as bombas, o 11 de Setembro e os suicidas. Enfim, um ocidentalismo primário e básico. Tipo século XIX (para usar uma expressão tua). Abraços Vata
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