OS TIGRES NÃO VOAM: Manda um provérbio hindu: não te queixes por Deus ter criado o tigre, antes agradece por não lhe ter dado asas. Alberto João Jardim, na sua recente boutade sobre chineses e indianos, presta um serviço inestimável a Portugal. Em primeiro lugar, porque ladra feio o que muitos portugueses rosnam de viés , oferecendo uma figura de identificação. Esta figura é importante para nivelar a espuma do debate: o lixo não pode ficar só nas ruas, os bons pensamentos não podem ter o exclusivo dos media. Porquê? Porque estamos todos no mesmo barco. Depois, é a este barco que Alberto João oferece os serviços de bom imediato. Em tempos de crise estratégica, a Europa deu sempre atenção ao discurso da autarcia racial e da homogeneidade étnica. Este discurso, esta configuração político-cultural diante de uma interpretação do mundo, exprime nestes tempos a sua evidente vacuidade: isolacionismo, fechamento, morte a prazo. Le Pen, Haider, Jardim, brindam com diferentes flutes mas com o mesmo mau champagne, aproveitando o refúgio de um humanismo de pacotilha. Lembram-se da Primeira Ministra Socialista nomeada por Miterrand, a Srª Edite Cresson, cuja primeira bravata visível foi fretar um avião em Orly para recambiar imigrantes ilegais? Que este discurso exista, que seja exarado pelas figuras que na cidade representam o medo, a desconfiança, a desordem. Tudo isto existe. É bom que também o tigre exista, que seja bem visível. Até porque não pode voar.
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