GENIVAL E O ANJO: Genival é um caiçara de 24 anos, alto e seco. Tem voz de criança, cabelo rente, orelhas grandes, e um sorriso que lhe estende os cantos dos lábios muito para lá dos ossos do rosto. Das quatro e meia da manhã às sete da tarde, trata de um esplendoroso e improvável jardim em pleno sertão cearense. Algumas noites, pode ser encontrado sozinho, sentado no escuro, ao lado de um pequeno cantil de água, a olhar as flores e as plantas sobre a areia fina. "- Desde que trabalho para a Dona V. voltei até à escola, eu não sabia nem escrever meu nome, agora já sei ler. Tem que saber ler, porque às vezes as plantas ficam doente e tem que procurar nos livros como curar. Quando eu era moço, não trabalhava. Bebia muita cerveja, muita cachaça, ficava por aí com os amigos, na rua, falando besteira. Daí uma tarde fiquei bebendo com os amigo, e bebi, mas assim muito, e fiquei dormindo no chão. Daí acordei, e estava assim meio sem saber onde estava, daí eu levantei e caminhei e caí num poço bem fundo. O poço tinha só assim um pouquinho de água e eu acreditei que ninguém ia mais me achar e que eu ia morrer. Daí vi uma luz branca muito brilhante e era um anjo. Daí eu fiz um voto para Deus que se me salvasse eu ia passar toda a vida protegendo a natureza. Então meus amigos me encontraram, lançaram uma corda e um pau e me içaram do poço. Daí Dona V. me viu na rua e me chamou para trabalhar com ela aqui. Já tinha passado uns dois ano e me deu uma dor muito forte na barriga, fui pro hospital, e vi muita gente morrendo por lá perto de mim enquanto eu esperava. Daí comecei a gritar muito e me passaram na frente pra cirurgia. Depois a enfermeira disse que eu não podia comer durante dois dia, só soro, senão podia morrer. Eu tinha muita fome, e fui pra tirar a comida do outro que tava do meu lado. Daí surgiu o anjo de novo, aquela luz assim muito brilhante, e daí eu disse pro anjo: ó, não se preocupa não que eu não vou morrer ainda, tá? vou continuar cuidando da natureza. Aí eu agôo todo o dia, de manhã bem cedinho, depois à tardinha, e tem que podar, tirar as folhas morta, os ninho de aranha... Às vez me dá uma preguiça danada, mas daí eu lembro do pessoal dizendo que o jardim tá lindo, e já fico com força de novo. Vou ficar trabalhando aqui até juntar uns 5.000 reais, daí eu volto lá pra Guriú e compro um pedaço de terra bem grande, o lugar da gente é com a família... Lá todo o mundo é pescador mas eu não gosto de pesca não, gosto mesmo é de planta, de flor, de árvore, sabe? Mas um dia até que gostava de trazer meu pai aqui, pra ele ver esse jardim... - Como é mesmo seu nome? - Genival. - Genival com gê ou com jota? - Genival com gê. Anjo que é com jota.
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