"ONDE A ALMA DO MUNDO ENCARNA": Numa pequena edição de 1986 da Assírio & Alvim, Eugénio de Andrade prefacia a Senhora da Noite de Pascoaes. Apenas sete páginas, que abrem com uma sentença de morte - sabemos dele coisas que vamos calar - que eu bem gostava que um dia me fosse ditada. Julgo que Eugénio de Andrade não se referia aos segredos que a cova acolhe. As coisas que calamos diante dos mortos, de certos mortos, são um sinal de submissão ao laço que a eles nos une. Para sempre.
"O conceito de morte é relativo (depende do desenvolvimento psíquico e situação afectiva de cada pessoa); é complexo e mutável, depende do contexto situacional. Filipe Ariès é autor do livro ?Sobre a História da Morte no Ocidente desde a Idade Média?. Nele, o autor explora uma perspectiva antropológica e histórica da morte. Parece-nos importante uma alusão a estes aspectos para compreender a mutabilidade e complexidade da realidade que é a morte. Durante séculos, as pessoas morriam mais ou menos às claras, como se fosse uma ?cerimónia pública?; a morte era simultaneamente familiar, próxima e atenuada, indiferente e domesticada. Inicialmente, temia-se a vizinhança dos mortos e, por isso, mantinham-nos afastados; progressivamente, em parte devido ao Cristianismo, os mortos passam dos campos para os cemitérios próximos das igrejas; ?... os ritos da morte eram aceites e cumpridos duma maneira cerimonial... mas sem carácter dramático, sem movimento de emoção excessivo? (Ariès, 1998, p.24). A partir da Idade Média, começa-se a pensar mais na própria morte do que na morte em geral. O Homem descobre a morte de si próprio; existia a consciência de que a vida era uma morte adiada, sendo esta aceite como simplesmente justa. A atitude perante a morte mudou lentamente até ao século XIX, altura em que se dá uma inversão na forma de ver e viver a morte. Domina a morte do outro, chorada e dramatizada, para se afugentar o pensamento da própria morte; pratica-se o culto dos túmulos e dos cemitérios." In tese de mestrado
Filipe, acho a tua ideia excelente. Mas tenho um pequeno problema- uma doença de intervenção que te posso explicar em privado e me pode limitar a capacidade de reagir posteriormente ao contra ataque. Mas estou a gostar desse desafio.Queres avançar.
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