A SELVA: A memória é uma mamã-leopardo. A recordação dolorosa, por exemplo a dos últimos dias de vida de quem esperavamos tudo, salta no tempo e abraça a memória dos dias felizes com essa mesma figura. Em que ficamos: é bom ou mau, recordar? Daí a utilidade dos cemitérios: são os secretários administrativos desta coisa, os rendeiros da formalidade memorável. Quando entramos, vamos munidos do formulário V, de vivos, o que nos separa de imediato dos que jazem sob o formulário M. Depois, o trajecto até à campa ou ao jazigo é medido pelos passos, como em qualquer repartição. A burocracia é um sossego, e assim também nós sabemos de antemão o que devemos recordar. Tudo organizado. O diabo é a vida fora das reservas naturais, fora dos parques protegidos. É aí que vive a memória, a selvagem, a mamã-leopardo. Ataca sem som nem aviso, nunca sabemos bem como, embora digam que prefere as fotografias e alguns CD's. Mas também gosta de se esconder na luz de certos meses ou num recanto da sala. A memória tem uma cria para alimentar, a vida é dura no mato.
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