SERRANIAS: Acompanho com desvelo a discussão mediática e blogosférica em volta da carta que Maria João Seixas escreveu a Helena Matos. No essencial, MJS disse a HM que longe vão os tempos em que ela combatia de armas na mão na Serra da Estrela, os burgueses e capitalistas, em nome da Revolução. A coisa resvala sempre para o mesmo: foste revolucionária fervorosa ( sanguinária?) e agora és conservadora: um pecado. Os que assim são acusados defendem-se habitualmente ( que não Helena Matos, pelo menos ainda) dizendo que quem não foi revolucionário aos 20 não pode ser um bom democrata aos 40. Não importa saber se neste caso Helena Matos andou de armas na mão a combater os burgueses de Seia ou da Guarda: interessa é o aforisma. Confesso que nunca entendi por que razão alguém que aos 20 anos defendia a Revolução Cultural, ou que dizia que os gulag eram uma invenção dos anti-comunistas serventuários do Tio Sam, alcança assim uma entrada honrosa no panteão dos democratas quando lhe começa a cair o cabelo. Não capto a relação causa-efeito: não tinham cérebro nem coração aos 20 anos? Compreendo evidentemente que em 74-75 muita gente tenha exagerado as suas convicções, como compreendo ainda mais facilmente que durante o Estado Novo as ideologias comunistas se oferecessem como as únicas alternativas. Mas tomemos o caso da actual ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, que só saiu do PCP, o mais estalinista dos partidos comunistas europeus, em 1991: viveu até então numa caverna da Serra da Estrela? Espero que tenha comido muito queijo. Da Serra, claro.
O problema é o facto de MJS atacar (pois é de um ataque que falamos) HM com base em coisas que lhe terão contado terceiros (noutro tempo chamar-se ia a isto, neste contexto, uma denúncia) - o suposto passado "revolucionário" desta - comparando-o com a sua actual postura conservadora e daí concluindo que HM se perdeu pelo caminho ("lembras-te do teu sonho da serra, Helena"?). Um nojo!
Por falar em ataque... Grande ataque de Nelson às redes do sporting. Iremos ter um guarda redes na seleção de todos nós que é suplente no seu clube? Será que passa o nosso Moreira ou o Quim a nº1?
Outro caso da actualidade
"Armed police officers fired at Jean Charles de Menezes for over 30 seconds when they killed him at Stockwell tube station, according to a witness statement made to independent investigators and obtained by the Guardian."
Ao que parece foram 11 tiros, em que 7 atingiram o brasileiro na cabeça, um no ombro e 3 falharam o alvo.
30 segundos, 11 tiros, 7 na cabeça... e o mais incrivel é que não era ele...
O Brasileiro só é terrorista porque fala português...
A crónica que essa senhora escreveu há dias no Público, sempre com um fundo de "common, it wasn't THAT bad" (HM) foi, a meu ver, um profundo fracasso... Já agora, onde está essa tal carta?
O ambiente geral do país podia ser de grande agitação, mas não particularmente de pendor maoista. Na casa dos vinte tomam-se decisões nem sempre muito ponderadas, muitas vezes por razões de impulso ou afectividade. E também a informação que nesse momento havia sobre os méritos e defeitos das opções políticas estava muito viciada pela recente saída da "noite fascista". Não acho nada de extraordinário no percurso de Helena Matos, e ainda bem que ela mudou, pois é uma das cronistas mais lúcidas e interessantes da nossa imprensa. É lamentável, como fez a MJS, brandir acusações de incoerência. A incoerência, nestes casos, é uma qualidade.
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