TODOS OS DIAS SÃO IGUAIS: É um dos mais belos textos estóicos, a 12ª carta de Séneca a Lucilius. Séneca utiliza uma visita à sua casa de campo, na qual constata que as pedra estão gastas e as árvores estão velhas. De início isto faz com que se interrogue sobre o seu futuro, uma vez que as coisas do seu tempo estão degradadas. Depois começa a sublinhar a necessidade de apreciar os frutos, mais preciosos se forem os últimos, tanto quanto reconhece que a velha casa rural declinou lentamente, tal como ele. Assim a velhice é suave e livre da necessidade da busca de novos prazeres. Em Roma, a idade simbólica da velhice eram os 65 anos, e Séneca alude na carta 26 ao facto de já estar muito perto desse limite. Entra assim em cena o personagem central: apaziguamento, suavidade, muito bem. E o medo do último dia? Séneca resolve elegantemente o problema recorrendo a Heraclito de Éfeso, dito O Obscuro: todos os dias são iguais. Heraclito opunha a sua fórmula à de Hesíodo, que nos Trabalhos defendia que o homem deve escolher os melhores ( os mais apropriados) dias para esta ou aquela tarefa. Séneca deambula através das diversas interpretações possíveis ( o dia é dividido em partes iguais, o dia sucede à noite, etc), para no final se reencontrar com a base estóica: cada dia é um ciclo fechado, nada a esperar do dia de amanhã. Para o velho que assim levou a sua vida, é simples: a velhice não existe. Lembrar-me-ei disto, quando estiver dentro de um avião em queda livre.
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