BIZARRO PAÍS: País muito curioso, este, que tem já três candidatos presidenciais cujo único (ou, pelo menos, principal) objectivo declarado é contrariar uma não-candidatura. Como poderá haver alguém que nos leve a sério?
Se, porventura, neste país, os senhores políticos tivessem verdadeira estatura estadista, verdadeiro sentido do dever que deve presidir à decisão de alguém se candidatar a um cargo político, então esta palhaçada não teria lugar. A nobreza moral e ética obstaria a tal. Mas tem lugar. E tem sempre lugar, em cada acto. E porquê? Boa ou má, tenho uma resposta. Cá para mim, tudo assenta na cultura da horta. Em vez de se elevar a uma estratosfera ética e moral, a gentalha política rasteja ao nível do solo, sem horizontes nem grandeza que não seja apenas os cuidados que têm com a sua própria hortazinha. Há que cuidar dos seus nabos, dos seus rabanetes criados com fertilizador subtraído ao erário público. É o portuguesinho mesquinho, sabidolas, pequenino, chico-esperto, que a gentalha política sintetiza na perfeição e que sabe poder actuar impunemente. Os políticos que temos (se é regra terá a sua excepção) são na verdade uns espertalhões que apenas cuidam da sua horta e do status quo plantado e implantado ao longo dos anos. Apoderaram-se dos instrumentos políticos que lhes permite repartir boa parte da riqueza do país pelos do seu grupelho, à vista de todos e utilizando para isso os instrumentos da democracia. Por isso, aparecem todos, como baratas tontas, mas espertalhões supremos, saindo a terreiro apenas para defender o seu pedaço, a sua horta, travestindo este movimento de auto-defesa do seu próprio status (o existente e o expectável) em candidatura democrática e altruísta. Tamanho é o despudor dos agentes políticos, que não só se consideram superiores às instituições que dizem servir como delas se servem na fácil arte (em Portugal, pelo menos) de conduzir a coisa pública a inconfessáveis fins privados. A bizarria apontada poderia até ser cómica não fosse a tragédia infra-estrutural que revela: A incapacidade deste país e do seu regime político-cultural de seleccionar os mais capazes e trazer ao país os valores do Estado de Direito Democrático, esses mesmos que têm vindo a ser sistematicamente violados pelos principais actores da mediocridade crescente. Evidentemente que, assim, ninguém nos pode levar a sério. Aliás, Portugal ameaça transformar-se no reino do surrealismo.
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