DIÁRIO DE UMA COLHER DE PAU: Na cozinha, são essenciais, como é óbvio. A imagem do cozinheiro - mau, bom, profissional, amador - debruçado sobre o tacho, aspirando vapores e fragâncias, tem mais de lenda do que de realidade. Salvo os casos de espaços extraordinariamente bem equipados, o cozinheiro, sobretudo o amador, vê-se cercado por uma variedade esmagadora de cheiros. No forno, uma perna de borrego tosta crepitante desassosegada por cebolas brancas e rosmaninho; no lume de butano ( outro cheiro) um tacho acolhe qual Guterres-dos-Refugiados, uns percebes outrora vivos, numa atitude experimental de com eles fazer um creme frio. O aroma iodado dos percebes cruza o ar quente e tenso do borrego. Juntos visitam outras vitualhas, expostas na banca da cozinha: o recheio das lulas, uma pasta de alho, chouriço de Portalegre, oregãos, coentros ( poucos) e os tentáculos das ditas, picados e embebidos num pouco de ferrado; arrebatador. Serve-se assim o cozinheiro da vista e da disciplina, já que o nariz está trôpego. Tem muitas vezes de sair do local apetitoso, respirar ar puro à janela e regressar recomposto. Na vida a mesma coisa: quando muitos aromas se misturam, há que pôr ordem na mesa de trabalho. Hoje a tarefa consiste em evitar ler na blogosfera a profusão de alegorias místicas e relatos de sessões espíritas, segundo as quais o Katrina se fartou de enviar mensagens à administração Bush. Cheiram a confusão.
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