E LA NAVE VA: Quatro candidatos à esquerda, nenhum à direita. Ao centro, talvez um: Cavaco. Isto é deveras surpreendente, ou melhor, deveria ser; mas a julgar pelo que leio por aí, toda a gente acha isto normal. Toda a gente define Cavaco como o candidato "da direita", o que é um disparate tremendo. Quem se recordar dos seus governos - pensionistas e funcionário públicos generosamente aumentados - e quem tiver lido as suas memórias tira daí imediatamente o sentido. Evidentemente, como não virá ninguém da "direita", Cavaco lá terá de fazer o papel: quem não tem cão caça com gato. Isto levanta dois problemas: por que razão a "esquerda" quer tanto a presidência, e por que razão tem tantas e tão variadas concepções da coisa? É de notar que todas as candidaturas de esquerda são da esquerda dura, daquela que até há bem pouco tempo inscrevia ( alguma continua a inscrever) Sócrates no clube dos neo-liberais. Uma resposta talvez seja esta: os portugueses associam a presidência da república a uma função de travão à acção política dos governos. A esquerda, segundo mandato de Eanes incluído se bem se lembram, ocupa a cadeira desde 1981. Isto poderá significar que os portugueses têm da esquerda, da presidenciável pelo menos, uma imagem de conservadorismo e imobilismo; esperam - e confiam - que ela seja um contra-poder a quem queira agitar as águas. O eleitorado "de direita" tradicional - rural, religioso e distraído - não se assustou com Soares e Sampaio, não é agora que o vai fazer; o outro, raro e moderno, não atribui grande importância ao cargo e alheia-se naturalmente. Nesta linha de raciocínio, a pluralidade de candidaturas de "esquerda" vai ao encontro das necessidades lusitanas. A ausência de candidatos da direita, idem. Que vos parece?
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.