QUEIMAR A MÚSICA QUE NOS DÃO: Antes de nos pronunciarmos sobre a valia das alterações ao combate aos incêndios que o governo soprou à comunicação social que iria anunciar hoje, conviria que reflectíssemos sobre dois pontos que saltam à vista: ou estas medidas foram feitas em cima do joelho ou o governo andou a mentir-nos durante todo o mês de Agosto - pois assegurou-nos que tudo estava bem, que o combate aos incêndios era o melhor, que as estruturas estavam correctas e funcionavam e que os meios bastavam e agora quer mudar tudo. Qualquer das duas hipóteses possíveis é má (é péssima!), quer o governo nos tenha mentido antes quer ande agora a toque de caixa a apresentar medidas provavelmente pouco estudadas e certamente nada fundamentadas. Pois que se as medidas estavam em estudo, mentiu-nos; se não nos mentiu, as medidas foram tomadas levianamente e à pressa, só para as televisões.
Atente-se, por exemplo, naquela que quer pôr fim ao conceito de época oficial dos incêndios. À partida pareceria coisa boa (devemos ser o único país no mundo que tem uma época de incêndios, definida como tal e com direito a menção no diário da república), mas logo depois vemos que o ano será dividido em duas fases, Alfa e Bravo (os nossos governantes gostam tanto deste tipo de coisas...), presumindo-se que a primeira se reportará à actual época de não incêndios e a segunda à de incêndios. Para o ano, uma das grandes medidas do governo contra os incêndios será certamente o alargamento da fase Bravo. Esta medida, bem como a aventada criação de um corpo especial de combate aos incêndios, pressupõe também uma desconfiança enorme relativamente aos nossos bombeiros e demais elementos ligados à "indústria do fogo", quer no modo como desempenham a sua actividade quer nas negociatas que em surdina se diz existirem. O governo tem dados sobre isto? Seria conveniente que nos esclarecesse sobre o assunto, sobre os motivos que o levam a agir como age.
Por fim, repito o que disse Luís Delgado no DN, há uma semana: onde anda a oposição, o que anda a fazer, porque permite que o governo tudo faça e diga sem apontar o ridículo, o absurdo, a farsa?
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