CONJUNTURAS: Não li ainda o famoso livro de José Gil, sobre o lusitano medo de existir, mas calculo que ele não se tenha ocupado dos detalhes que aqui vou referir. Em tempos que já lá vão, o Eng. Guterres negociou o orçamento de estado com um deputado do PP. Este deputado, ao arrepio da orientação do seu grupo parlamentar, possibiltou a passagem do orçamento em troco de um qualquer benefício relacionado com uma fábrica de queijo, para a sua localidade, Ponte de Lima. Na altura, nem os deputados da maioria socialista nem o Presidente da República rasgaram as vestes, antes pelo contrário, nem os deputados da oposição abandonaram em bloco o hemiciclo, em sinal de protesto. Este ano, a propósito das eleições autárquicas, todos se indignaram com o populismo e com o caciquismo regional. Hoje, todos reflectem sobre "a crise do sistema político", na altura, apenas alguns - sem autoridade real - levantaram a voz. Por outro lado, no tempo do Dr.Cavaco, assistiu-se em Portugal a uma das maiores fraudes da jovem democracia portuguesa: a dos dinheiros do Fundo Social Europeu. Foi uma fraude tentacularmente nutrida e com consequências desastrosas para a modernização e reconversão do tecido produtivo português: é certo que permitiu o enriquecimento de alguns indivíduos e criou uma boa escola de corrupção, mas não estou seguro que estes que tenham sido aspectos positivos. Li as memórias governativas do Dr. Cavaco e, como era de esperar, não encontrei um capítulo ou um parágrafo dedicado ao tema. Estes episódios exprimem uma evidência recorrente: as avaliações morais sobre o "sistema político" são meramente conjunturais. Não admira que os portugueses não acreditem nelas.
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