O DORSO ALVO DOS COMBOIOS: Na praia da Consolação, a sul de Peniche (bem bonita por sinal), encontraram hoje gansos-patolas mortos. Se quiserem saber porquê, perguntem ao Ruy Belo, que lá sentado, talvez em meados de 50, escreveu alguns dos seus poemas e fez muito bem. Um bicho com esse nome morre bem na Consolação, diria o Ruy.
A frase exacta do Ruy Belo é "para que nenhuma palavra levante a cabeça no meio da frase", o que diz bastante mais sobre a sua relação com D(d)eus. Quanto ao voto em Cavaco, não sei. Mas até eu, que voto em Cavaco, acho um pouco exagerada essa comparação do c(C)orvo entre Deus e o nosso Presidente.
O Pedro Picoito é que é! Já agora, para o Pedro e para o Corvo, e porque estamos em Ruybelices, o candidato dele só pode ser josé o homem dos sonhos ( "Homem de Palavra(s)", 1969).
Sem dúvida. Mas, como os homens dos sonhos não costumam ir a votos, acho que o Ruy Belo escolheria o Jerónimo de Sousa. É o que mais se aproxima do D.Pedro da Margem da Alegria: "bailador, monteiro e justiceiro"...
Na minha modesta (mas não desinteressada) opinião, o injustíssimo esquecimento de que tem sido alvo o Ruy Belo deve-se simplesmente a não ser fácil catalogar a sua poesia. É profundamente religiosa, mas não é a de um crente "oficial", pelo menos a pertir do seu segundo livro. Num país de sonetos e afins, intimida pelo uso frequente do poema longo ou mesmo longuíssimo. É de alguém de esquerda, mas é ao mesmo tempo muito clássica e até elitista - pela "eufonia" e pelo recurso frequente a alusões de alta cultura. Por outro lado, estou convencido que o facto de Ruy Belo não militar politicamente na esquerda comunista ou socialista prejudicou a sua divulgação. Basta comparar com a de outros talentos menores do que o seu (o próprio Manuel Alegre, por exemplo). O único caso de semelhante e injusto esquecimento é, num outro extremo, o do desalinhado Alexandre O`Neill. Que, ao lado de Cesário, Pessoa, Sophia e Eugénio, completa o meu ramalhete pessoal de grandes poetas portugueses. Desculpem-me a confissão, mas já que estamos nessa onda...
E fui conferir a tal frase ao prefácio da segunda edição de Aquele Grande Rio Eufrates. O que lá está exactamente é "o desejo de que palavra alguma levante a cabeça no meio da frase".
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