O PARTIDO SOCIALISTA: Se há partido político que nunca deixará de me surpreender, esse partido é o Socialista. Segundo a sua muito particular ideia de democracia, o Partido Socialista (ou "alguém" por ele) acha que Manuel Alegre não deveria estar presente nas reuniões da Comissão Política, à qual ele pertence por direito próprio, porque alguns dos seus membros poderiam estar lá a discutir estratégias relacionadas com as questões presidenciais e Alegre não deveria ouvi-las. A coisa é idiota de todo. Manuel Alegre tem o direito de estar ali; se os outros não querem discutir determinados assuntos à sua frente, que os vão tratar para outro lado (o sótão do Guterres deve estar vago, pode ser que ele o ceda baratinho?); o que não se pode é impedir a participação de quem por direito próprio deve estar na Comissão Política do PS.
A coisa é ainda idiota porque alguns dirigentes do PS parece que não querem aceitar que, mesmo calados ou assumindo posições públicas muito diferentes, inúmeros membros da Comissão Política do PS vão natural e animadamente votar em Manuel Alegre e não em Soares, pelo que era desnecessário ter-se dado esta triste ideia da liberdade e democracia no interior do PS. Que farão quanto a esses os fervorosos adeptos de Mário Soares na Comissão Política? É que se não afastarem também da Comissão Política os suspeitos do costume, estes últimos irão revelar a Alegre as "fabulosas estratégias" para as presidenciais (coisa que, de resto, é inócua pois os dirigentes do PS costumam, com uma candura que raia a ingenuidade infantil, revelar por completo as suas estratégias, por mais absurdas que sejam). Aliás, semelhante posição ofende o próprio Soares que disse esta semana às televisões que servilmente o acompanham por todo o lado que não gostava de segredos.
A coisa é, por fim, idiota porque demonstra uma subserviência do PS a Mário Soares que não se percebe muito bem: é que sendo evidente que Soares combinou com Sócrates e o PS a candidatura presidencial e o apoio do PS, virem agora os próximos de Soares (e do PS) apresentar como estratégia fundamental o afastamento da candidatura presidencial relativamente ao PS e ao governo socialista é apenas a maior forma de desprezo que Soares poderia demonstrar face ao partido. E o PS gosta, agradece e abana a cauda, todo sorridente.
Sendo extraordinário que o PS não se incomode que aquele que alimentou lhe morda a mão com este inusitado à-vontade, espera-se do eleitorado que perceba estes estratagemas. Ou alguém acredita que este afastamento de Soares relativamente ao PS mais não seja do que uma tentativa infantil de tentar enganar o pagode?
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