PERÍODO DE REFLEXÃO V: De resto, confesso que também não sei bem do que nos queixamos nesta democracia. Produzimos um Presidente da República que, seguramente depois de ter andado dias seguidos a tentar laboriosamente elaborar um discurso para o cinco do dez, a estudar afincadamente cada palavra, a comover-se com cada frase («anda ouvir esta Maria José, snif, snif...?») , tem de pôr os seus assessores jurídicos a explicarem o discurso. Mas ele fala para os portugueses ou fala para advogados? Falará para portugueses apenas ajudado por advogados? Discursa num dia para ser esclarecido no outro? Não tem vergonha?
E o nosso Primeiro-Ministro que, a propósito de uma pergunta de uma jornalista, diz que a sua decisão não indignifica ninguém? O que poderia haver de mais ridículo? Foi isto que conseguímos construir em democracia? Gente que nos rege e não se sabe fazer compreender ou não sabe falar a língua portuguesa? O que poderia ser mais absurdo?
PERÍODO DE REFLEXÃO VI: O que poderia ser mais absurdo é o PR defender a criminalização do enriquecimento ilícito em Portugal (cfr. DN, p. 18). Nos outros países não é? No nosso não era? Virão os serviços de Belém descrever agora o que é enriquecimento ilícito? Está tudo doido?
PERÍDO DE REFLEXÃO VII: Mais absurdo ainda é andarmos a festejar efusivamente (embora com esclarecimentos posteriores e disparates do género) uma data episódica do país esquecendo que em 1143 nasceu o mesmo, como diria o meu querido Diário de Coimbra.
PERÍODO DE REFLEXÃO VIII: Temos de nos tentar consolar com a ideia de que isto tudo, na expressão do Primeiro-Ministro, não indignifica ninguém. Quando temos um Presidente da República que rasga a ciência jurídica e diz o que lhe apetece para no dia seguinte ser corrigido pelos seus assessores, quando temos um Primeiro-Ministro que atropela a língua portuguesa e quando ambos defendem disparates a torto e a direito, nós estamos à espera de quê?
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