TEMPO PERDIDO: Nunca se uniram para protestar contra dezenas de reformas demenciais nem contra as centenas de escolas sem condições. Mas unem-se agora, pela primeira vez em democracia, os três sindicatos de professores de sensibilidades políticas diversas. E unem-se porque o governo quer obrigá-los a gastar na escola, o tempo que até agora dispendiam a dar explicações generosamente remuneradas. Ou a passear. Ou as duas coisas. Note-se que sendo eu docente do ensino superior privado, compreendo bem que os professores se achem muito mal pagos: a menos que fosse para matar a fome ( bem, nesse caso preferia ser cozinheiro) , não aturava os nosso meninos. Mas os professores nunca se "uniram" antes, e por isso perderam a autoridade moral para o fazerem agora.
Os profs. são mal pagos em POrtugal? Essa é para rir. Compare o salário de um prof. com o rendimento per capita do país e vai ver como ser prof. em Portugal é um privilégio. Haja vergonha. Sou bolseiro da FCT e sou bem pago.
Com esse método de análise - "eu estou bem, logo os outros também devem estar" - espero que a sua tese não seja de sociologia. Experimente deixar a bolsa da FCT e ir dar aulas a 150km de casa, com 150 contos por mês, e depois diga-me qualquer coisa.
Pois é. Eu ganho muito bem... Mas a minha escola fica a 70 km de minha casa, desloco-me todos os dias 140 km, gasto 200 euros de gasóleo por mês, mais de 100 em refeições nas escola, uma renda de casa de 350 euros e 3 filhos e ganho 1000 euros. Sou MESMO bem pago. Sobra-me imenso dinheiro no fim do mês e sou, obviamente feliz!
É impressionate como este governo conseguiu que se gerasse por todas as classes profissionais a inveja e mesquinhez mutuas (o que bem transparece no comentário ao post do FNV). Sinto muito FNV, mas não consigo perceber o conceito de "autoridade moral" para poder PROTESTAR . Ou se concorda ou não se concorda com um determinado protesto. Mas o que é isso de ter autoridade moral para protestar? As pessoas sentem-mais acossadas que nunca. E por isso, agora se unem,como nunca o fizeram antes. Chama-se "Poder de indignação".Podemos?
Ser professora do ensino obrigatório e secundário, acredito que não é fácil. Mas não se uniram contra as reformas do ensino, contra a forma como são feitos os concursos de atribuição de escola, preferiram entregar atestados médicos falsos, agora para não ficarem mais tempo na escola, alegam cansaço. Não é a Sociedade que está contra os professores, são eles que se queimam, com as suas alegações.
É verdade que existe em Portugal um problema de inveja socializada incontrolável - particularmente à esquerda. E agora, de repente, parece que metade do país é privilegiada, o que é ridiculo. Por isso condeno o tom moralista deste post.
Mas não condeno a medida que obriga os professores a passarem na escola o tempo para o qual já eram pagos - bem ou mal, foi esse o contrato que aceitaram. Vir agora com protestos porque um governo faz o seu trabalho e lhes lembra aquilo para que são pagos é chocante - e de certeza que ninguém os vai apoiar.
Boa discussão, mas pode ser melhor. Ó Luis Jorge: então o tom do meu texto é moralista e você é que fica "chocado"? Limitei-me a escrever o que toda a gente sabe: os professores utilizavam muito do seu tempo para outras actividades. Leia com atenção o que comenta: em parte nenhuma eu disse que os professores são privilegiados. Outra coisa que deveria ser discutida ( eu discuto-a há anos), relaciona-se com o próprio estatuto cultural do professor: mais de metade dos actuais queriam tanto ser professores como eu quero ter ter uma perna partida. Entraram nos cursos para os quais tinham média, e ficaram com as saídas profissionais possíveis. Claro que "mal pagos" é uma categoria circular: não gostam do que não sabem fazer e ressentem-se disso.
Desonesta a sua argumentação (e descanse que não sou de sociologia) porque pegou na última parte do meu comentário. O que digo, e isto é o mais importante, é que se comparar o salário de um prof. português com o salário de um prof. que qualquer país da Europa, e tiver também em conta o rendimento desses países, verá que proporcionalmente os profs. portugueses são beneficiados. Há dados sobre isto. Quanto ao facto de muitos não quererem ser profs., concordo, mas esse é um mal que só pdoer mudado muito a montante. Quanto ao "sentidos percebidos", e deduzindo que também a sua mulher ganhará um salário, quer dizer-me que ganha mal? Faço as contas e não me parece....
Nos idos anos 90,91 e 92, andava eu no Liceu, numa turma de humanisticas (como se denominavam na altura)e nessa mesma turma ninguém ambicionava ser professor, acontece que apenas três escaparam à sina. Hoje acredito que alguns tenham aprendido a gostar da profissão, mas a maioria não. Na altura as notas de acesso ao ensino superior eram altas, os cursos com notas mais acessiveis eram os de via ensino, e grande parte dos meus colegas teve de fazer a escolha entre entrar num curso de que não gostavam ou entar no mercado de trabalho sem os minimo de qualificações, pois apenas sabiamos escrever e ler muito bem, saber fazer alguma coisita, não. Eu tive sorte de poder escolher não ser professora e gostar do que faço.
Como em tudo, há professores que ganham bem para o que trabalham e outros que ganham pessimamente mal (200 alunos, 400km de casa, 150 contos por mês, etc.). As generalizações erram sempre.
Quanto às horas dos professores... Também aqui, há os que trabalham mais de 50 horas por semana (a preparar aulas, fazer material, instruir-se continuamente, etc.) e os que não fazem nada e dão aulas de improviso. Um professor que cumpra a obrigação tem uma profissão em que praticamente não tem descanso: está constantemente a aprender, a preparar-se. Nesses casos, é mal pago e pouco respeitado. Nesses casos...
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