AROMAS: Dizem que o melhor é o de um bom pão de quilo a acabar de cozer, ainda fumegante e estaladiço. Não tenho a certeza. Sair do quarto bem cedo e sentir logo, lá em baixo (mas a subir rapidamente pelas escadas), umas torradinhas acabadinhas de fazer é sublime. Parece que já trazem manteiga. Fundamental que a atmosfera traga ainda o chilrear de uma qualquer coisa ao lume, uma cafeteira ou algo do género: sentir a essência de leite gordo a ferver, carregadinho de nata, mesmo para um não bebedor do mesmo é fabuloso. Ou o cheiro profundo do salgado do mar, numa praia ventosa e com o mar em fúria, a salpicar na cara. Simplesmente adorável é o cheiro da terra seca molhada, principalmente se num agreste fim de tarde, em Agosto, em pleno e deserto Alentejo. Há fragrâncias maravilhosas que povoam os recantos mais profundos da nossa memória e nos fazem sentir sempre bem, como a de um bebé acabado de sair do banho, devidamente untado sem avareza com a velhinha e clássica água de colónia Johnson. Ou, em oposição, o encantador pivete de um estábulo cheio de bois e palha seca. Verdadeiramente estupendo é o perfume do pisar do vinho, em particular, e dos bons vinhos em geral, o de uma velha adega - sempre belo - ou o da primeira lareira crepitante de Outono (também associada a torradas e compotas), acendida com pinhas velhas (nunca acendalhas!). O fumo de um bom charuto ou o voluptuoso aroma de um excelente tabaco de cachimbo, que me transporta sempre e muito velozmente para a segurança e felicidades da infância, são inolvidáveis. E haverá coisa melhor do que enfiar o nariz num velho armário de bebidas? Sentir aquela deliciosa misturada de odores de madeira e álcool? Ou mergulhar num livro antigo? E fruta verdadeira? É incrível como hoje, nas grandes lojas, se passa pela zona das frutas e não se cheira a nada; mas experimente-se uma velhinha mercearia com uma velhinha merceeira, cheia de fruta bichada, feia e disforme, e experimente-se com tempo o fabuloso bálsamo dos pêssegos, dos morangos, dos figos pequeninos.. que coisa admirável! Aproveite-se a ocasião e dê-se uma valente fungadela junto da broa quente, que está por cima do papel pardo, no canto do balcão de madeira carunchosa. É quase tão bom como o cheirinho de um belíssimo café de balão, quente, demorado e profundo. Ou o do interior de um carro novo. Pequenas coisas que nos fazem ficar felizes.
Desdobre-se a bandeira do Glorioso cuidadosamente; pouse-se o antebraço esquerdo sobre o símbolo e faça-se uma pequena incisão com um X-acto previamente desinfectado (mas depois passado por água mineral). Derrame-se o sangue sobre a bandeira. Inspire-se fundo. Não há aroma igual, meu caro Vasco.
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