"CHICO-ESPERTO": O Presidente Sampaio alertou recentemente para o "chico-espertismo" na sociedade portuguesa. Não deixa de ser curioso que o faça no final de um mandato que alcandorou o chico-esperto à condição de português-tipo deste início de século. É certo que o presidente não governa. Também é certo que muito do que ocorreu nos seus mandatos teve origem em data anterior. Mas, a verdade é que muita coisa aconteceu debaixo do seu insensível nariz durante os últimos dez anos. O chico-esperto, que apenas conhece direitos, prospera na impunidade, na cunha, na desresponsabilização, na ultrapassagem pela direita, na negociata sem factura, no arranjinho político e no total desrespeito pelos outros (bananas). É fácil reconhecer que este perfil é mais comum actualmente do que há dez anos atrás. Penso que o Presidente Sampaio não teve firmeza perante a degradação do ambiente social, do lamentável corporativismo que o mina, da educação moribunda e da justiça (?) que não funciona - pelo menos, para a maior parte das pessoas. No que toca directamente à política, ígnorou o abastardamento das instituições - cujo auge foi a negociata parlamentar do "orçamento limiano" - parecendo refém dos maiores partidos políticos (com especial incidência no seu!), cujos lideres ganharam as últimas legislativas mentindo deliberada e descaradamente nas respectivas campanhas eleitorais. Mas, pior do que tudo, é o facto do tal chico-espertismo se ter tornado o comportamento dominante. As pessoas admiram e copiam o chico-espertismo bem sucedido, como se comprovou nas recentes eleções autárquicas. Pode avaliar-se a actuação de Sampaio caso a caso, se agiu bem ou mal em cada ocasião ou se foi, pura e simplesmente, ultrapassado pelos inexoráveis acontecimentos. No entanto, o balanço dos seus mandatos é indissociável da comparação entre o país que encontrou ao assumir a presidência e o país que agora nos deixa.
É verdade que ele não contribuiu para resolver, na prática, nenhum dos problemas, mas disse a respeito de cada um deles que era "motivo de preocupação acrescida" ou até "prioridade". Um homem de palavras.
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