EXIBICIONISMOS: Desde que a notícia saiu, salvo erro há 4 ou 5 dias, acompanhei a evolução. Refiro-me ao caso das miúdas que trocaram carícias numa escola e que foram "discriminadas" pelo director ( espero que não tenham sido lapidadas como na Nigéria). Tenho neste momento em psicoterapia duas mulheres que gostam de mulheres ( feitas e com profissões, digamos, de prestígio) e que têm um problema: sentem que não podem trocar um beijo com as suas namoradas nem levá-las a casamentos e baptizados. O mundo não é bem como Miguel Sousa Tavares ( hoje, no Público) diz que é. Mas num ponto - e essencial - ele tem razão, e passo a justificar porquê: Tinha eu 17 anos meti-me no CITAC, o grupo de teatro universitário de Coimbra que se podia frequentar sem ter o cartão do PCP ( o outro era o TEUC). Lá conheci a E., três anos mais velha, loura natural e inteligente. Quando estavamos em minha casa, numa divisão que era o meu espaço, ficavamos por vezes junto à janela. Ora, essa janela dava para o jardim de uma vizinha, velha e amarga, que um dia se foi queixar aos meus pais que eu e a E. exibiamos comportamentos menos próprios. Os meus pais falaram comigo ( julgo que foi a minha mãe só, não tenho a certeza) e eu resolvi o assunto. Passamos a fazer exactamente o mesmo , só que com a janela fechada. Devo dizer que até evoluímos, pois que a privacidade faz muito bem às relações pessoais.
Casos como o das raparigas que refere começam a aparecer, com mais regularidade, nos dias em que vivemos. Já vizinhas como a sua existem desde sempre e em todo o lado! Se for necessário lapidar alguém que seja a vizinha pura e casta.
Esse director deve reprimir a homossexualidade, que segundo sei não abona a favor do mesmo!
De 64 a 68 fui membro do TEUC, nos dois últimos anos na direcção, sem nunca ter tido cartão do PCP. Nem nessa altura nem em nenhuma outra. Conheço bastantes outras pessoas nas mesmas condições. Que entre o TEUC e o CITAC sempre houve uma certa rivalidade,é certo, mas era mais artística do que política, pelo menos naquela época. O TEUC ia mais para os clássicos e o CITAC para as tendências mais modernas. Em termos políticos davamo-nos bastante bem
Pois: antes de 74 acredito, seria até difícil "exigir" cartão do PCP. No meu tempo, 82-83, a coisa piava mais fino. Mas é óbvio que me refiro a uma exigência simbólica. Era aliás uma piada corrente na academia.
Se a história aconteceu como é contada, chamar exibicionistas a duas raparigas que se abraçam e beijam em público... enfim... só o João César das Neves (talvez). Para mim, é muito claro que se trata de uma discriminação estúpida, a menos que se prove que a escola proíbe os mesmos actos entre pessoas de sexo diferente. E as mães podem mandar na casa delas como querem; mas um director de uma escola não pode fazer de um espaço público o que quer.
Não te posso ajudar, PC. Pude ver a entrevista na TV a um das raparigas, mas tal não me esclareceu. Em off, o director da escola terá dito que não discriminou ninguém e que não permitia quaisquer manifestações de sexualidade dentro da escola. Tu dizes que elas se "abraçaram e beijaram em público", eu não sei se foi só isso. Que não houve suspensão das alunas nem qualquer outra medida desse jaez, na sequência dos factos "sexuais", é certo. Que terá havido uma atitude agressiva e intimidatória por parte do director, tendo a acreditar, mas não deixa de ser a palavra delas contra a dele. Parece-me terreno pouco sólido para grandes conclusões. Por outro lado, não duvido que a escolas são muito pouco tolerantes para com manifestações de afecto homossexual. A começar pelos colegas.
É verdadeiro Luis, o seu último ponto: as coisas andam devagar, mas andam, tenho aqui escrito isso muitas vezes ( o que me valeu o epíteto de defensor do lobi gay, politicamente correcto, etc). Ainda assim, é preciso ter calma. Tenho aprendido muito com as pessoas (provisória ou permanentemente) envolvidas em relações homossexuais, que tenho tido em consulta ao longo dos anos. Muitas me têm dito que o chavascal as prejudica, sentem-se utilizadas e ainda mais expostas. Mas também é verdade ( irra, pareço o arquitecto...) que tem sido graças a simples pergunta "homem ou mulher?" que faço na conversa inicial quando introduzem o tema da suas vidas amorosas, que tenho ganho a confiança delas. A discriminação é uma coisa mental, automatica.
Um aspecto relevante do caso, mas que não vi aqui referido, nem, salvo erro, no artigo de MST, é a falta de senso com que os responsáveis da escola abordaram o caso: denunciando a actuação das raparigas aos pais.
1.º) Presumo que as raparigas fossem menores, não? Nesse caso, acho muito bem que situação tivesse sido comunicada aos encarregados de educação. Se foi só isto, não vejo nenhuma "discriminação" nem razão para todo este "chavascal" (tirando a oportunidade para conhecer episódios interessantes, metaforicamente utilizáveis, da adolescência do FNV)
2.º) Houve mais alguma atitude do director?
3.º) Caso tenha havido, era uma escola pública ou privada?
Sem mais estes elementos, tenho dificuldade em formular qualquer juízo sobre o tão anatemizado director. (e, by the way, acho que isto não tem nada a ver com os padres mandarem ou não nisto)
P.S.: Sem ser a propósito, não me parece muito estimulante a questão de saber qual era o cartão, eventualmente partidário, necessário para entrar para o TEUC. De todo o modo, não bastaria o MDP?
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