INQUÉRITO SOBRE A HUMANIZAÇÃO: Pretender humanizar bidonvilles modernos ( os bairros sociais) é o mesmo que pretender humanizar a guerra nuclear. Um livrinho já muito antigo ( The Religion of Java, UCP,Chicago,1959) estudou a religião numa parte da Indonésia; entre outras coisas, estudou a coabitação, numa zona de Java, entre: descendentes da antiga elite holandesa e do seus aliados aristocráticos locais, os Prijaji, com bons empregos na administração central, culturalmente evoluídos e professando uma religião de características mistas hindu-budistas; os Abangan, sobretudo camponeses e ligados a antiquíssimos rituais animistas; os Santri, comerciantes e lavradores ricos que já foram a Meca, cultores de um islamismo purificado. Clifford Geertz, o autor do estudo e durante muitos anos professor em Princeton, acabou por elencar factores que tendem a exarcebar ou a moderar o conflito entre estes três grupos. No grupo dos factores "maus", para além dos óbvios - desconfiança básica, por exemplo - um é particularmente interessante:
* a necessidade de bodes expiatórios que suportem a tensão gerada por uma mudança relativamente rápida do sistema social.
No grupo dos factores "bons", também para além dos evidentes - a partilha, apesar de tudo , de uma cultura comum - este é digno de nota:
* o facto de os padrões religiosos não revestirem directa e cruamente as formas de vida social, antes aparecerem indirectamente, subtilmente; isto possibilita um equilíbrio entre os vários compromissos - religiosos, de vizinhança, laborais, etc. - de forma a que desse equilíbrio nasçam vários tipos mistos de grupos e até de indivíduos.
Gosto que me ponham a pensar... E tiro duas conclusões: 1)o volume de estudo social, étnico e cultural já realizado, essencialmente no sec. xx, é no minimo formidavel, e está, grande parte, "encaixotado" em bibliotecas; 2)se queremos explicações ou teorias cientificas sobre os conflitos e desafios modernos, tão caros à nossa comunicação social, é só procurar os problemas e soluções encontrados pela humanidade desde o neolitico. Nós pensamos sempre que as nossas encruzilhadas são novas...
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