A LESTE NADA DE NOVO: O governo francês anunciou a adopção de várias "medidas sociais" como um dos meios de superar a crise que abala a République. Cada um sabe de si, mas, vista de fora, a iniciativa parece má. Desde logo, porque, anunciada nestas circunstâncias, enche a barriga de gozo aos palermas que gostam de criticar qualquer iniciativa social, seja ela qual for, só porque é "social": lá vem o discurso irónico - e ignorante - acerca de Rousseau, do bom ladrão, da necessidade de diálogo e compreensão, etc. Aqueles que nunca perceberão que a pacificação social favorece, sobretudo, os proprietários dos carros. Adiante. Depois, num plano puramente estratégico, porque cria um precedente perigoso. Por último, a decisão do Governo francês não deixa de ser repugnante, na medida em que, tomada assim sobre o calor dos acontecimentos, traduz o seguinte pensamento implícito: foi preciso tudo isto para que nos déssemos conta da vossa existência, foi preciso tudo isto para que nos sentíssemos obrigados a olhar para lá do périphérique. Cada grupo social continua a estender a sua força até onde os restantes o permitem. Como alguém disse no século XIX, é um fenómeno que faz parte do sistema.
Não me parece que seja perigoso apenas num plano "puramente estratégico". Também o é enquanto oferta de uma explicação excessivamente simples para o que se passou.
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