O MUNDO FICA MUITO MAIS SEGURO (II): Pergunta-me o Homem das neves se eu não acho as praxes dos fuzileiros britânicos animalescas. Acho, como acho boa parte da programação das TV's nacionais ( reality shows, telenovelas, talk shows, etc) igualmente animalesca. Não é por aí que lá vamos. O meu ponto é o seguinte: as tropas de elite são voluntárias e constituídas por tipos que se espera que se comportem como cães de guerra. Nas casernas treinam e praxam de acordo com um modelo comportamental adequado. Querer que estas tropas se comportem educada e civilizadamente é bem um sinal da nossa desorientação actual. Criamos um mundo adolescencial, repleto de uma espécie de cripto-veganismo, para cujas fronteiras empurramos a realidade. Produzimos jogos de consola onde se ganham pontos extra se matarmos grávidas nas passadeiras para peões, ao mesmo tempo que achamos que os peixinhos dourados sofrem em aquários redondos ( como em Itália). Adoramos estrelas pop na sua luta contra a pobreza e contra a globalização, na medida exacta que nos fascinamos com os milhões que gastam de cada vez que se casam ( e casam-se muito). Mas quando alguém quer regular a violência nos ditos jogos de consola é acusado de moralismo bafiento pelos mesmos que se indignam com as praxes dos cães de guerra. Entretanto o mundo continua lá fora, porco e violento, insensível à idealização mimada e juvenil que dele fazemos.
Apesar de concordar consigo em relação à questão da violência na TV (acho especialmente escandaloso o caso dos desenhos animados dos últimos) e em alguns vídeo jogos, não posso concordar consigo quando de uma forma eloquente tenta meter tudo dentro do mesmo saco! Por norma, os militares regem-se por códigos de conduta rígidos, códigos esses que se aplicam desde a recruta à reforma e de períodos de paz a períodos de guerra ?há convenções Internacionais que determinam os a conduta dos soldados em diversas matérias? Se, como as suas palavras deixam transparecer, não nos indignarmos e punirmos (no caso as autoridades britânicas) estas práticas, casos como o da prisão de Abu Ghraib no Afeganistão serão considerados normais e fruto do treino de qualquer força de elite? Aproveito ainda para lhe lembrar que, mesmo em alguns jogos violentos ? America?s Army ? o código de conduta está presente! Um Abraço!
Concordo inteiramente consigo. A sociedade está presa a estes moralismos pueris, sempre apadrinhados por uma inequívoca convicção na bondade do homem. Estamos há demasiado tempo, demasiado seguros em valores que consideramos universais que não estamos disponíveis para ver a realidade do que é feito este mundo. Este arquétipo omnipresente nos países ocidentais do que devem ser as forças armadas da actualidade é demasiado inocente e hipócrita para ser verdade. Pagamos a homens (e agora mulheres) para combater e morrer pelo que acreditamos ser os valores a preservar, mas que não estamos nós próprios dispostos a combater e morrer, relegando-nos para a salvaguarda do estatuto de ?inocentes civis?. Os quais não são passíveis de ser alvos. Aos que são passíveis de ser alvos, pagamos-lhes o treino para se comportarem como as necessárias eficientes máquinas de matar que tem de ser, naqueles que serão os ambientes mais hostis e violentos que um ser humano se poderá encontrar. No final ainda exigimos que se comportem como fervorosos e obedientes respeitadores de todos os direitos cívicos. Estranho e instável este pretendido equilíbrio...
Isto está um bocado trocado e eu devia concordar contigo, mas... Deixa lá o multiculturalismo: são os Royal Marines e não uma tribo tuaregue, for God`s sake! Não sei se os seus pitorescos costumes tribais lhes servirão de muito quando enfrentarem a guerrilha iraquiana. E um pouco de maneiras não lhes tira a virilidade.
Meu caro Rogrego: precisamente porque não meto tudo no mesmo é que escrevi "por aí não vamos lá", muito menos com Abu Ghraib. Grande Pedro do Pulo: és um gentleman sentimental que talvez ignore as práticas dos Dragoons, dos Greys ou dos arqueiros de Henrique V. Não havia era TV...
O FNV é que esta a misturar tudo, porque havemos todos de nos medir pelo minimo denominador comum dos moralistas de pacotilha?
As praxes nao sao aceitaveis porque violam a lei e a dignidade humana, e que eu saiba existem outras formas de educar e formar sem chegar a barbarie e ser primata.
(fui cadete durante um ano, e nao quero usar galoes que nao recebi, em 95 havia aind a famigerada formação geral conjunta na Amadora pelo que a maior parte do meu tempo estive a salvo da furia possessa dos mais antigos, e era ve-los e senti-los a espumar, fosse de raiva ou de contentamento, nas ocasioes em que nos tinham à mão.)
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