A PENA E A ESPADA: Tenho acompanhado com interesse a discussão do estilo marcação cerrada que nos blogues e nos jornais se tem feito sobre os motins franceses, e tenho-a acompanhado também na blogosfera islâmica, ainda com mais interesse ( o www.islam.online.net.com. é um dos bons pontos de partida). Nos nossos blogues e jornais parece que a coisa está do género "quem não é por nós é contra nós". Dito de outro modo, está tudo explicado: ou aquilo não tem nada que ser estudado ( é tudo sociologia barata), ou então só pode ver visto pelo ângulo da sacrossanta culpa ocidental. Permitindo-me variar, sublinho um aspecto curioso: ao contrário de muitos dos países de origem dos pais dos amotinados, a França é um lugar de livre expressão, mas registe-se que o meio utilizado não foi, digamos assim, o da palavra. E isto é crucial. Já aqui tenho trazido o caso da blogosfera iraniana, e no Finantial Times de hoje podemos ler um artigo de Nasrim Alavi sobre o assunto, e sobre o blogger iraniano que desencadeou o movimento how-to-blog em Farsi. Noutro local, no www.altmuslim.com, aparentemente longe do tema dos motins, Havva Gunney-Ruenbenacker publica um texto de crítica aos que entendem - como Ayaan Hirsi Ali - que o Corão passa um cheque em branco aos tradicionalistas para tratarem desumanamente as mulheres muçulmanas. A guera civil começa por vezes muito longe da primeira barricada, e 20 milhões de muçulmanos no espaço europeu são uma boa razão para nos lembrarmos disso.
Tens razão, Filipe. E, mais uma vez, é uma bênção poder ler alguém que vai para além dos automatismos que vão por aí. Lendo a blogosfera, às vezes pergunto-me se estaremos todos a assistir à mesma coisa. Ou se eu sou realmente de direita. Como se tudo isto fosse só uma questão de mais liberalismo ou de mais Estado social. Ainda não escrevi nada, nem sei se vou escrever, porque não quero discutir assim as coisas. Mas sabes que não concordo contigo. Sem querer dizer, como alguns, "eu bem tinha razão", acho que chegou a altura de retomar um debate recente. A Europa precisa de imigrantes e não pode impedir a sua chegada ilegal, disso ninguém tem dúvidas. Mas é para alimentarem os guetos de Paris, Birmingham e brevemente sabe-se lá de onde (Espanha? Itália? Holanda?) que os trazemos? Para morrerem de desepero e raiva enquanto criam bairros medievais onde o Estado só entra na ponta de um bastão policial? É isto o multiculturalismo? Às vezes pergunto-me se, afinal, não serei mesmo de direita.
A propósito da dialéctica esquerda/ direita nas "culpas" pelos acontecimentos em França. Retirado de um comentário de david Ugarte ( blogger espanhol de origem marroquina-deugarte.com): (...) La tolerancia con discursos pro-Sharia y la alimentación del victimismo que caracterizan a una parte de la izquierda son efectivamente tan culpables como el miedo a la diversidad de la derecha
Los tres discursos, que podríamos personificar en Tareq Ramadan, Sarkozy y cualquier líder de esa izquierda relativista que comentas, torpedean la base del estado de derecho: la igualdad de todos los ciudadanos frente a la ley, la idea de que los sujetos de la ley y los derechos no son colectivos ni grupos, sino individuos.
Es triste que a estas alturas tengamos que recordar cosas tan básicas, pero el hecho es que unos y otros se están alimentando y haciendo que la sociedad pierda la referencia y el horizonte.
La derecha porque viene de planteamientos romántico-nacionalistas y siempre adoleció de un cierto hegelianismo en su concepción del Estado. La izquierda porque se habituó tanto a pensar en términos de sujetos colectivos (la clase social, ?los pueblos?), que parece muchas veces incapaz de entender el mundo desde la ciudadanía? Entre unos y otros, ofrecen un campo semántico y político donde Ramadan y los suyos se legitiman y pueden plantear falsas preguntas (como la cuestión sharia) que serían implanteables en un estado democrático liberal sano.
Lo que me pregunto es dónde están los liberales en unos y otros partidos, dónde está la confianza en los valores comunes que animan la apuesta de Europa por la democracia y la igualdad cívica frente a la ley. Dónde está nuestra identidad como territorio de libertades.
Estoy convencido de que si no recuperamos, frente a la cobardía de unos y el relativismo culposo de otros, una identidad basada en los valores republicanos de ciudadanía de nada nos servirán las políticas represivas, estaremos perdidos frente a los nuevos retos totalitarios.
Caro Pedro: já há muito tempo, bem antes destes acontecimentos, que trago para aqui a questão identitária. Também não me apetece muito a bagarre em si, mais o texto da coisa. Religião, insisto, cultura nela originada, insisto, viajantes e transplantados, insisto... Ao anónimo: obrigado pelo artigo.
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