A RAÇA DE FERRO*: No Fórum da TSF uma senhora conta a certa altura que lhe morreu uma filha, julgo que num desastre de automóvel. Diz ela que se "refugiou na ginástica", que "graças a Deus já frequentava". Tem razão, a senhora. O corpo está lá para ser sofrido e numa tragédia destas é o único território que pode pagar as favas. Sabemo-lo bem: de início mal dormimos, a cabeça parece uma esponja, o fígado atura os dislates, uma inquietação anarca marca-nos o passo. Os terapeutas esquecem-se porém, deste aliado distraído. Em tempos que já lá vão, numa situação semelhante, foi o corpo que o salvou. Consumido pelos duros cuidados que lhe ofereceram os Deuses, obrigou-se a sentir cada músculo, forçou os pulmões até os sentir na boca, estabeleceu planos rigorosamente cumpridos. Era a única coisa que podia controlar, naquele mundo deserto e estupefacto. Os tendões e os ligamentos recordaram-lhe que alguma coisa vivia, crescia e sofria, apenas porque ele queria. Também a senhora da rádio deve ter sentido a trégua: algum bem será misturado aos seus males.
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