AMARGOR: Numa entrevista concedida a Frederico de Melis e publicada no Il Manifesto de 5 de Maio de 1981, Primo Levi é convidado a fazer uma comparação entre os seus livros e os de Kafka. Diz-lhe o entrevistador que onde Kafka é sempre rarefeito, pessimista e artesão de uma vida perdida, Levi, mesmo no "Se isto é um homem", parece respirar outra atmosfera. Levi explica que ter sobrevivido ao Lager nazi fez dele na altura um optimista, é bom tudo o que acaba bem, ao contrário de Kafka, que perdeu as irmãs num campo de concentração. Levi, na altura da entrevista, já velho, diz-se então finalmente pessimista. O que mudou? Para Levi, a sensação de sobrevivência à máquina de matar declarou um sentimento de que só coisas boas poderiam nascer a partir daí; hoje ( 1981) pensa que o mal pode - e deve - repetir-se. A idade traz-nos o dom do presságio? Ou a idade traz-nos apenas, com a flacidez dos músculos, a certeza de que os piores tempos já não serão nossos? Levi cita ao jornalista um canto de Leopardi: "Altro dirti non vo'; ma la tua festa/ ch'anco tardia venir non ti sia grave". Ou seja, a nossa festa ainda vem longe.
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