A DONA DA VERDADE: Não me impressiona a intervenção presidencial em áreas que não são as suas. Ao longo destes últimos 10 anos, assistimos a inúmeros discursos de Jorge Sampaio com recados para o executivo. E, mesmo quando essas mensagens não eram perceptíveis no texto (a grande maioria das vezes), vinha sempre um assessor, antes ou depois do discurso, explicar o que se pretendia dizer ou se tinha dito.
Cavaco Silva tem sido acusado pela esquerda de interferência (ou de "intermitência", na particular opinião de Soares) nas funções governativas por ter aludido ou mesmo sugerido numa entrevista a criação de uma secretaria de estado. Veio logo a esquerda dizer dele que não conhece a Constituição e as funções presidenciais e que apenas pretende usurpar o poder executivo.
No dia seguinte, o candidato presidencial Louça clama que a proposta do governo para aumento na função pública é um "erro inaceitável" e o candidato Jerónimo de Sousa apela à intervenção presidencial de Jorge Sampaio (de Alegre ainda não ouvi nada e Soares deve andar ainda a treinar-se soletrando a mensagem que querem que profira).
Mesmo já habituado a que a esquerda se julgue sempre dona da verdade, confesso que me espanto sempre com a facilidade contorcionista como ela defende poder fazer aquilo que criticou aos outros no dia anterior. Na verdade, porque estranha razão umas intervenções serão legítimas e permitidas e outras não?
Ó Vasco, ou melhor ainda é isto: hoje, os sindicatos e o Jerónimo de Sousa vieram a terreiro pedir ao actual PR para se intrometer na negociação dos aumentos salariais da função pública. Imagina se "ele", o "gajo", dizia que uma vez eleito tentaria mediar negociações destas: outro golpe de estado virtual, gritariam os cómicos.
Ora nem mais. Eu acrescentaria que desde o famigerado dia ... de Abril de .....(recuso-me a pronunciar tal data, muito menos a escrevê-la) sempre que a não esquerda profere comentários sobre a actuação da esquerda, estamos perante graves défices democráticos, corre-se o risco de voltar à um sistema ditatorial, golpes de estado institucionais o diabo a quatro! Se for a esquerda a proferir atrocidades, a delirar, e a ter diarreias mentais, estamos ainda perante fortes contributos à construção democrática a consolidar desde há 31 anos. Será que em 1941 os políticos da altura nas suas criticas e comentários falavam na construção e consolidação da república?
Fazendo o paralelismo com a frase que supostamente enquadra a direita portuguesa no contexto europeu, rapidamente surge um adjectivo para a esquerda nacional. E posto isto, talvez não será de todo exagerado que temos a esquerda mais bacoca da europa...
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