IMPRENSA ESTRANHA: Há largos meses que não compro o Expresso. Porém, de vez em quando, tento-me a ler o da minha mulher, sobretudo quando traz notícias curiosas na capa. Hoje, achei intrigante o modo como o Expresso trata o caso do contentor de imigrantes do Aeroporto Sá Carneiro, que o Anarca já qualificou. Na sua coluna de opinião, Fernando Madrinha introduz o tema com "uma reportagem que chocou a Itália". "Faz agora dois meses". E tudo o que se diz sobre o relato do jornalista italiano é que "provocou enorme polémica". Moral da história: é um problema geral. Depois, no sempre surpreendente "Altos e Baixos", José António Lima põe nos píncaros, literamente, o secretário de Estado-adjunto José Magalhães, por ter decidido ordenar "com prontidão e sentido de responsabilidade", o encerramento do "contentor-cárcere que, para vergonha do país, já funcionava há mais de dois anos". Isto como "exemplo de um governante atento". Não duvido que a situação chocou José Magalhães. Mas será que se pode falar de prontidão e atenção quando o responsável pela tutela de uma área tão "melindrosa" para os direitos humanos, como José Magalhães a qualificou, se dá conta do que se passa no centro de detenção do segundo aeroporto do país, após 10 meses de Governo, por causa das denúncias telefónicas feitas por uma detida a uma estação de televisão? Curiosamente, o silêncio do Alto Comissário para a Imigração e Minorias Étnicas não merece qualquer comentário da parte dos colunistas do Expresso. Claro, tecnicamente, não são Imigrantes. Temos talvez que criar um Alto Comissário para os Penetras, com competências que lhe permitam estimular a já certificada atenção e prontidão do secretário de Estado.
É isso. Desta vez o alto-comissário ( um burocrata assumido, valha-nos isso) "que não se importa de almoçar com quem não usa talheres em nome do multiculturalismo" não vai receber os parabéns do nosso amigo Luís do Mal, eheheh...
Estando no fundamental de acordo, e para além do que venha ou não no Expresso - não sei, há anos que não leio, até porque me é pessoalmente doloroso - há ainda assim um ponto do que o Secretário de Estado José Magalhães disse que, em termos de atitude governamental, e sem desmentir uma inacreditável incúria atentória dos direitos humanos, me parece importante fixar: ele reconheceu taxativamente que existem situações em que um alerta da comunicação social é importante para o próprio executivo se aperceber de uma situação de negligência também da sua parte, e por isso aquelas degradantes instalações foram de imediato fechadas. Eu suponho que esse é precisamente um dos papéis mais imprescindíveis da imprensa numa sociedade livre, sendo raro - e por isso não deixo de o anotar - que um governante o reconheça explicitamente.
sim, é verdade, e também apreciei o pormenor. Mas o post não era propriamente sobre a atitude de J. Magalhães: era sobre o modo como toda a situação foi comentada no Expresso. Acho que os mesmos factos, com outros intervenientes, poderiam dar azo a comentários muito azedos no mesmo jornal. Estou a ver, p. ex., um qualquer sec. de Estado a ser posto no fundo dos "Baixos" porque precisou da denúncia de uma televisão para se dar conta do que se passava. Não?
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