MANUEL ALEGRE À PRESIDÊNCIA (II): Manuel Alegre não é doutor nem tem o mestrado, nem sequer, suspeito, uma pós-graduação. É como a maioria dos portugueses, um curioso. E que diz ele ( retomando o último ponto do post anterior da série)? Entre outras coisas criminosas, fala de Pátria e do orgulho nacional, fala da identidade portuguesa. Como era de esperar, intelectuais mais ou menos provincianos agitaram-se: populismo, disseram uns, bolor marialva, disseram outros. Por falta de informação, de viagens e de estudo ( não necessariamente por esta ordem), estes conceitos são associados a uma visão do mundo passadista e fechada, quando não à "direita tradicional" ou à xenofobia. Ou seja, vibrantes universitários ainda carregam a ideia de Pátria do Dr. Salazar. A verdade é que uma das áreas de estudo e de intervenção que mais cresceu nos departamentos universitários americanos e europeus nos últimos quarenta anos, prende-se com isto. Os estudos pós-coloniais e os area studies, berços de críticas violentas ao passado colonial da Europa e ao imperialismo americano, radicam precisamente na (re)construção das identidades nacionais das nações outrora desqualificadas; no seu orgulho, na sua História, na sua identidade cultural. Que um Presidente que não pode governar nem legislar ( para isso existem outros) se proponha a fazer o papel de Leopoldo (da Bélgica ou do Senegal), não é demeritório. Ainda para mais sendo esse Presidente um escritor. O provinciano, dizia Ortega y Gasset, é aquele que viva onde viver ( e pode ser Londres, Paris ou Leiria), pensa que vive no centro do mundo. O namoro a uma reeducação das idiosincracias nacionais só pode ajudar a combater essa ideia provinciana: somos todos centros, como já fomos todos berlinenses. Esta diversidade só assusta quem vive o sonho de um mundo uniformizado e obediente às suas ilustradas concepções sobre como todos devemos viver.
E ele, Manuel Alegre, seguramente não precisará de usar o "dr." quando se é apenas licenciado, como fazem talvez 90% - ou mais, não sei - dos "doutores" deste país.
Uma inexactidão (sejamos bondosos) com consagração oficial, aliás, neste país onde o escorreito "sr." manifestamente não chega...
Pena que o homem estrague tudo quando diz que Portugal só deve intervir militarmente com mandato da ONU. A negação do pensamento, julgamento e acção próprio é a negação da identidade .
Legalista? a ONU é legalista para ti? Então como é que dezenas de países que não cumprem a Carta tem lá assento e votos. Agora fiquei deveras surpeendido.
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