MANUEL ALEGRE À PRESIDÊNCIA (V): Se me sentasse a conversar com o Manel, com o pretexto escondido de uma perdiz à Outeiro, discordaríamos em tudo o que é essencial, concordaríamos em quase tudo o que é acessório. Por que razão voto nele? Não simpatizo com a súbita afeição ao anti-aparelhismo, com o amor a todas as mulheres ( algumas são horríveis), com a compulsão em dissolver parlamentos; não penso que a igualdade possa ser imposta a partir de esboços traçados por iluminados e não gosto da sua poesia. Gosto da sua vaidade crua, do seu jeito desconchavado, do Benfica; gosto dos perdigueiros e gosto dos toiros como ele. Não virá a ser presidente? Não importa. Gosto da urticária que provoca nos senõritos satisfechos, da capacidade de incomodar a casta imorredoira. Quero ajudá-lo a fazer orfãos.
Alterar tamanho O debate televisivo entre Mário Soares e Manuel Alegre foi o retrato, a preto e branco, da uma esquerda socialista ultrapassada pelo tempo, com ajustes de contas por saldar e sem nada de novo para dizer ao país. Nenhuma ideia para combater o medíocre desenvolvimento português, para inverter o atraso que nos distancia do resto da Europa, para abrir caminhos de futuro.
Com o decorrer da campanha e a presença nos debates, a candidatura de Manuel Alegre tem vindo a perder gás. Alegre começara em alta esta sua aventura presidencial: pela onda generalizada de solidariedade e simpatia suscitada pela forma como a sua candidatura fora tratada por Mário Soares e pelo PS; pela sua idealista cruzada à margem dos aparelhos partidários; pelo reconhecimento da sua carreira como destacado valor da literatura portuguesa e como político fundador da democracia. Daí o segundo lugar que começou por ocupar nas sondagens, para surpresa de muita gente. E, em particular, de vários dirigentes do PS e do núcleo soarista, que começaram por desvalorizar sobranceiramente a sua candidatura alternativa.
Mas a falta de apoio partidário, de uma máquina profissionalizada no terreno, tem colocado a sua campanha na sombra, no fundo do palco mediático. E, por outro lado, como se tem visto nos debates e entrevistas, falta a Manuel Alegre um discurso articulado e profundo. O candidato, que nos últimos anos sempre colocara a actividade política em segundo plano, surge impreparado, apenas conhece muitas das matérias pela rama, ficando aquém dos argumentos de opositores como Louçã ou Cavaco, comete lapsos e acumula contradições. A autoritária intensidade da voz não é acompanhada pela superficialidade do discurso e a leveza com que aborda a maioria dos temas em debates.
A cada dia e a cada debate que passa, a sua candidatura tem vindo a perder peso e a deixar erodir a sua base de apoiantes. Alegre arranjou, para disfarçar o vazio generalista e abstracto do seu discurso, algumas bandeiras laterais ao cargo presidencial (como a oposição feroz à privatização das águas e da rede eléctrica), repescou o conceito de pátria e juntou o tema da cidadania exercida à margem dos partidos. É pouco. E pouco entusiasmante.
Optando por uma linha de intervenção moderada e dirigida ao eleitorado central, Alegre tem apresentado, nas entrevistas e debates, uma imagem de simpatia e cordialidade. Mas falhou o discurso para o eleitorado de esquerda, fica pouco do que diz, não tem sido marcante no contraste com os adversários. E, sem aparelho e com poucos meios, era quem mais precisava de o ser. Para consolidar e assegurar a sua precária liderança à esquerda nas sondagens.
Já Mário Soares entrou nesta campanha eleitoral com duas frentes simultâneas de batalha. À direita, contra a fortíssima probabilidade de Cavaco Silva vencer logo à 1ª volta. À esquerda, contra a inesperada dimensão que a candidatura de Alegre assumiu, relegando-o a ele, «candidato oficial» do PS e venerando pai da esquerda, para o terceiro lugar das sondagens.
Esta dupla frente de batalha tem-no forçado ao papel, pouco condizente com o estatuto que adquiriu, de ter que falar de baixo para cima. De estar constantemente a atacar Cavaco e Alegre, em vez de falar para o país e do país. Como se viu no debate com Alegre, Soares menoriza-se, lança farpas e remoques constantes no meio de um discurso repetitivo e pouco fluente.
Mário Soares tem o mesmo discurso de há 10, de há 15, de há 20 anos. Mais empastelado e um pouco mais radical no que respeita ao alinhamento internacional, aos EUA, à NATO. Em certos momentos, chega a ser confrangedor pelo tom de cartilha e pelo amontoado de lugares comuns.
Soares e Alegre juntos deixam fugir, nas intenções de voto da generalidade das sondagens, 10% a 15% dos votantes que José Sócrates congregou em 20 de Fevereiro. O que significa que Cavaco Silva, além de fazer o pleno do eleitorado de direita e centro-direita, vai captar um em cada três eleitores do PS em Fevereiro último. A velha esquerda de Soares e Alegre vale, hoje, bem menos do que a nova esquerda de Sócrates.
Cónica de José A. Lima no Jornal Expresso
Ó Professor (FNV) vá por mim (eu até fui seu aluno à bem pouco tempo), o melhor voto é no professor Cavaco Silva (senão me engano você apelidava-o de Pai Severo, Austero mas Competente). Um grande abraço para si, Prof. FNV.
Manuel Alegre, ao fim de 31 anos de acomodado com o vencimento de S. Bento e o "pinga pinga" dos direitos de autor, olhou para os seus companhons de route e viu que estavam todos, ou quase todos, ricos. Numa tentativa de recuperar do tempo perdido e tendo-lhe sido criadas as condições, resolveu candidatar-se e ir a votos. Como irá obter mais do que 5% dos votos com uma campanha baratinha, feita praticamente pelos média, receberá do Estado DEZ MIL ORDENADOS MÍNIMOS, qualquer coisa como 3.750.000 Euros, ou sejam SETECENTOS E CINQUENTA MIL CONTOS. Nada que se compare com os pecúlios entretanto arrecadados por muitos dos seus camaradas, mas enfim, dá geito a ele e ao Soares.
Praça stephens pode-me indicar os erros ortográficos, por favor? Por acaso, não sou aluno de 20 mas nunca dei muitos erros a escrever. Mas, eu quero sempre aprender e melhorar. Como, por aquilo que parece, você é que sabe e é você que escreve bem, fico à espera que me ensine a escrever sem erros. Haja paciência para estes tipos presunçosos. Ex-aluno
Moulin Rouge: Ok, reconheço a falta do h. Foi um pequeno erro ortográfico pelo qual me penitencio. Em relação ao termo canalhada, tenho de lhe reponder da mesma moeda pois não sou Jesus Cristo (apesar de ser católico) para dar a outra face: Canalha é quem lhe fez as orelhas! Peço desculpa a todos os utilizadores deste blogue (especialmente ao Prof. FNV) por este palavreado. Em algumas ocasiões temos de descer ao mesmo nível de alguns pseudo-sábios que aqui andam. Termino com um provérbio: "Todos falam e murmuram, e ninguém olha para si." Ex-aluno
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