O NOVO ACORDO SYKES-PICOT E A ESTRATÉGIA AMERICANA PARA O MÉDIO-ORIENTE: Em Maio de 1916, a França e a Inglaterra desenharam o mapa de influência no Médio-Oriente com base no acordo negociado por Georges-Picot e Mark Sykes, em Novembro do ano anterior. A partilha imperial ( depois alargada à Rússia e à Itália) tinha como objectivo impedir a existência de um grande estado árabe na região. A Palestina ficou sob controlo internacional, a actual Síria e o Líbano ficaram para os franceses, aos ingleses coube o Iraque, parte da Jordânia e de Haifa. As fronteiras a desenhar acabaram por impedir o que fora prometido a Sheriff Hussayn: o tal grande estado árabe na região. O texto integral* do acordo ( que pode ser lido em www.mideastweb.org/mesykespicot.htm) é bem explícito: a área compreendida é uma espécie de pequena comunidade inter-arábica, sem alfândegas ( !), e regida em exclusividade pelos assinantes do acordo Sykes-Picot, que passariam a dispôr dos direitos exclusivos de construir caminhos-de-ferro, importar mercadorias, movimentar tropas, etc. Este arrazoado vem a propósito daquilo que hoje em alguns círculos islâmicos se designa como o sendo o objectivo da administração norte-americana para o médio-oriente: a divisão. O Iraque dividido em três zonas :curda, xiita e sunita . O Líbano partilhado entre os maronitas e uma outra zona sob influência drusa e sunita . Um artigo aparentemente simples, publicado na Foreign Affairs de Julho/Agosto de 2004 por Eliot Cohen - History and the Hyperpower - dava razão às acusações que hoje são feitas. Cohen explicava que a "república imperial" ( como Aron designava os EUA) do século XXI já não pode aspirar a ter colónias, a projecção do poder sobre outro país já só podendo resultar não do desejo de ter uma colónia, mas do medo do caos. O papel dos EUA na região ( a alternativa seria a retirada total, o que Cohen considera e provavelmente bem como uma sentença de morte para a própria região) terá assim de ser o de evitar a anarquia. A acusação segundo a qual se está perante um novo acordo Sykes-Picot não é assim tão tola. O www.freearabvoice.org, uma página ultra-radical mas muito bem escrita ( dizem logo ao que vêm: "Your voice in a World where Zionism, Steel, and Fire have turned Justice Mute"), publicou em Maio passado um artigo de Abu Iskandar, no qual se denunciava a política franco-americana para Darfur como componente da nova estratégia: dividir para reinar. Os próximos anos confimarão ou não o regresso do acordo Sykes-Picot. Mas para já veremos se os chineses têm razão quando diziam ser impossível determinar a idade de um rio, já que as águas nascem todos os dias.
* É deliciosa a observação final no texto do acordo: "His Magesty's government further consider that the Japanese government should be informed of the arrangements now concluded".
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