LOOPING THE LOOP: Estava-se no início da coisa - talvez Agosto - e Vasco Pulido Valente escrevia numa das sua crónicas do Público ( procurem-na) que Soares ganharia à primeira ou então não ganharia, simplesmente. Hoje precisou de dois parágrafos ( está a amolecer, o nosso bom VPV) para dizer que o povo é burro e egoísta - por isso elegerá Cavaco - e que não merece o cosmopolita Soares. Mudou bastante, o povo, em seis meses.
FNV, quer-me parecer que és mais um que não percebe o que o VPV diz. Ele nunca disse que o Soares ia ganhar, o que ele insiste em mostrar é um mundo que se perdeu e que o Soares não entende, porque foi ultrapassado pelos tempos. Simplesmente, ao contrário dos possidónios ele tem a perfeita noção que estes novos tempos nada têm de interessante- são o pronuncio da decadência do Ocidente.
É isto, como já o dizia há 2 anos e apostava que o Soares havia de vir a campo para disputar as eleições com o Cavaco. Mas tem razão, só haveria disputa se o mundo não tivesse passado a viver do show de plástico dos media. Foi isso que ele esqueceu. È disso que se vive e é verdade que é por aí que o Alegre pode passar por ser qualquer coisa como "presidente" quando há uns 10 anos atrás a simples ideia seria uma anedota.
Mas vocês devem ser todos demasiado novos para se aperceberem disto. E quanto ao VPV inistem em lerem-no como político partidário quando ele é historiador.
Zazie ( ou quem estiver a usar o nick): "decadência do ocidente"????? Ó filha, isso começou com Hesíodo, continuou com Cícero e S. Agostinho, passou por Nietzsche e Spengler e agora acaba em ti ; a anunciá-la em primeira mão...
pois que pensas tu de que fala o VPV? que mundo é que ele descreve? não leste ainda hoje a crónica?
é óbvio que é decadência. O facto de ter existido decadência há séculos não impede que em 30 anos também não tenham existido mudanças enormes. Nunca entendi essa vossa facilidade em citar uns chavões e ficarem muito satisfeitos com isso. Nesse caso seria impossível descrever mudanças de curta duração. Tudo se resumiria a uma decadência sempre igual, pelos mesmos motivos. Viviamos fora do tempo. E depois bastava tratar da história como se trata da bola. Torcer por uma claque e imaginar que quem não torce pela sua só pode ser rival de outra idêntica.
Meu caro Filipe, sou eu a Zazie, pois e se conseguires explicar-me o modo banal como lês o VPV agradecia-te. Se calhar a falta é minha. Como não tenho candidato e conheço os escritos do VPV não preciso de amofinar por ele desta vez ter dito mais uma grande verdade. Que o Alegre é uma figura de feira, o Cavaco um mero técnico visto como um ídolo por quem vê triunfo sucesso em qualquer treta e que o Soares não se dá conta que este mundo já não é o seu.
Desgra-te a análise? acredito. Tens candidato. Invalida isso a verdade da mesma?
"Mas nem por tudo isso Mário Soares deixou de ser parte e parcela de uma cultura burguesa que morreu. Uma cultura em que a arte, a história, a filosofia, a política, a conversa, o conforto e a cozinha contavam. Uma cultura cosmopolita, que lhe permitia estar em casa em Itália ou em França, em Inglaterra ou em Espanha, na Alemanha ou até na América "liberal" da costa leste. Um homem destes não podia perceber (e não percebeu), nem se podia adaptar (e não se adaptou) a uma civilização de "massa". Principalmente, um homem destes não podia ter a mais remota empatia pelo "novo homem", reduzido a uma educação técnica, com ideias sumárias sobre a sociedade e a vida, imitativo, grosseiro e dedicado a uma ambição primária e pessoal"
o que é isto? não é decadência? arranja outro nome que eu sei que para inventares nomes és bom. Já quando foi o caso de apoiares a ideia de negociar com os terroristas que o Soares atirou cá para fora para efeito de pré-campanha (como eu disse na altura e que vocês insistiram em não ligar) também inventaste muitas palavras para dizeres o mesmo- negociar.
Foi pena na altura ter-te falhado a perspicácia para topares que nem o Soares sabia do que falava. Mas pelo menos nisso a´te já se modernizou, sabe que basta atirar umas bocas politicamente correctas para o ar para se inventarem apoios. E arranjou. Grande parta da campanha dele ainda agora vive dessa boutade da negociação com os terrotistas, transformada em "visão de política internacional". Ia jurar que metade dos apoios que tem vem precisamente daí.
agora essa tua ´"análise" de este texto do VPV ser uma forma de chamar burro ao povo e defender Soares por ser cosmopolita... francamente... deixa muito a desejar. Não és capaz de a sustentar. o povo burro e egoísta?
onde desencantaste essa? vou passar para aqui o texto para que alguma alminha brilhante mo demonstre.
"Um equívoco Vasco Pulido Valente
Peço licença para repetir: o dr. Mário Soares combateu a ditadura e ganhou, combateu a tentativa de subversão comunista em Portugal e ganhou. Foi duas vezes primeiro-ministro e duas vezes Presidente da República. Pelo caminho fundou o Partido Socialista, o único partido democrático e verdadeiramente europeu, que antes do 25 de Abril existia numa esquerda repartida entre o PC e grupúsculos "revolucionários" de uma total frivolidade, que se inspiravam num "marxismo" perseguidor e, sem saber, já morto. Aos 50 anos, Mário Soares, que o próprio Kissinger imaginara um novo Kerensky, era uma glória do Ocidente. De Mitterrand a Reagan, toda a gente o ouvia e o respeitava. Nunca nenhum político português tinha chegado onde ele chegou: e provavelmente nenhum outro voltará a chegar. Mas nem por tudo isso Mário Soares deixou de ser parte e parcela de uma cultura burguesa que morreu. Uma cultura em que a arte, a história, a filosofia, a política, a conversa, o conforto e a cozinha contavam. Uma cultura cosmopolita, que lhe permitia estar em casa em Itália ou em França, em Inglaterra ou em Espanha, na Alemanha ou até na América "liberal" da costa leste. Um homem destes não podia perceber (e não percebeu), nem se podia adaptar (e não se adaptou) a uma civilização de "massa". Principalmente, um homem destes não podia ter a mais remota empatia pelo "novo homem", reduzido a uma educação técnica, com ideias sumárias sobre a sociedade e a vida, imitativo, grosseiro e dedicado a uma ambição primária e pessoal. Daqui veio o grande equívoco da candidatura. A Mário Soares, Cavaco e Alegre e, muito menos, Jerónimo e Louçã pareceram uma oposição insuperável. À esquerda, Jerónimo e Louçã ficariam com o seu pequeno público, guardado para a segunda volta, e, de resto, quem escolheria Alegre, uma personagem menor e um lírico de província? E, à direita, quem acreditaria num economista superficial e estreito, quando a crise que excede em muito, e decisivamente, a economia? A natureza e o passado de Mário Soares não o deixaram ver que o país gostava com certeza, não de Alegre, mas do reality show de Alegre: a falsa rebeldia, a falsa independência, a falsa inspiração. Como não o deixaram ver que a força de Cavaco é a fé "moderna" na omnisciência e omnipotência do especialista. A derrota de Mário Soares, que talvez seja irritante, não será humilhante. Entrou imprudentemente para um universo a que não pertence e pagou o preço. Sucede aos melhores. Esperemos que, saindo, fique aliviado. "
o que te desagradou e não tiveste coragem para o dizer foi isto: ", quem escolheria Alegre, uma personagem menor e um lírico de província? (...)" não o deixaram ver que o país gostava com certeza, não de Alegre, mas do reality show de Alegre: a falsa rebeldia, a falsa independência, a falsa inspiração"
tens dúvidas? eu não tenho e não me admira nada que seja à custa desse novo reality show que ganhe votos impensáveis há uns 10 ou 20 anos atrás. Que se chame decadência da sociedade a isto acho natural. O que já não parece assim tão natural é dizer-se que esta decadência bem específica- massificada, dos nossos dias seja a mesma e eterna decadência desde os tempos de Hesíodo como tu arrumaste em resposta demasiado apressada
É óbvio que se em Agosto Soares podia ganhar, "o novo homem" era o mesmo, não? Nessa altura a aposta fazia sentido, para VPV: agora culpa o novo homem, "grosseiro e primário". Os intelectuais são assim. Não tenho candidato nenhum, as alegrices foram sempre uma brincadeira assumida aqui no blogue. Agora que a decadência é anunciada desde os tempos de Hesíodo, lá isso é. Nietzsche dizia que agora que o povo já pode ir à ópera não tarda nada os teatros ficarão infestados de mau gosto. Os gentlemans ingleses anunciaram a decadência da Britania quando foi concedido o direito de votos às mulheres. E por aí ( entediamente) fora... Não "leio" VPV no sentido geral. Leio cada crónica e sou desde há muito um apreciador ( até gozam comigo com isso no Mar Salgado). Mas como calculas, não o venero...
Adenda: "filha" saiu-me; peço mil desculpas, pese embora a (boa) intenção de te representar como fonte de juventude e brutalmente bela, que o serias se fosses minha filha ( que o és de todo o modo, quero dizer, bela).
"Mário Soares possui a cabeça de um governador civil do Sr.Dr.Afonso Costa (...). Depois de Jaurés, não aprendeu nada. Há quase um século que não lhe entra uma ideia na cabeça".
Vasco Pulido Valente, Esta Ditosa Pátria, Relógio D'Água, 1997, pp164, cortesia de J.P.George do Esplanar.
Pois querida Zazie, quer-me parecer que Soares está desfazado há mais de um século, não achas? Eu não. Eu acho é o nosso VPV um exagerado, e não apenas quando (não) me convém. Beijinhos.
Vamos então a isto. Em resumo digo-te que não entendes a noção do mundo que se perdeu nem entendes em que aspecto o VPV ?admira? o Soares.
Ia jurar que o que ele admira no Soares é até algo um tanto ?privado?. Ser o oposto daquilo que ele é- um céptico - um descrente face a tudo. E o Soares representa essa capacidade de luta e de desejo por um mundo melhor que não morre com a idade. Em termos muito básicos é esta a leitura que há muito faço do que ele diz acerca do Soares.
E isto nada tem de político - é mais uma força interior de crença que também é bom que exista. Ele quase que já o disse assim, por estas palavras. Por isso é que também escreveu aqueles textos ha´2 anos a dizer ?voto? nisso.
Não era votar no Soares, era votar na aposta que estava a fazer de ter o feeling que o Soares havia de vir a terreno para lutar com o Cavaco.
E veio, e foi um brilhante feeling. Na altura disse isto mesmo ao Statler dos Marrestas e ele ainda gozou comigo.
Ninguém percebeu essa crónica. O VPV tem o dom da perspicácia e isso é coisa que não se aprende. Nasce-se ou não se nasce com ela.
É claro que já meteu água quando fez aqueles prognósticos acerca da queda da URSS. Mas isso é porque é um pessimista nato.
Voltemos agora à tua resposta: 1?É óbvio que se em Agosto Soares podia ganhar, "o novo homem" era o mesmo, não? Nessa altura a aposta fazia sentido, para VPV: agora culpa o novo homem, "grosseiro e primário". Os intelectuais são assim.
?!? mas o VPV sempre gozou com essa ideia do homem novo!!! Ainda há pouco quando o convidaram para aquela treta de forum dos economistas esperançados ele mandou a boca e perguntou se por acaso o homem novo se encontrava na plateia...
Não é culpa de nenhum homem grosseiro, carago! Tu entendes bem que não foi isso que ele escreveu. Nem nunca se enquadraria no VPV criticar o povo- isso é coisa para clones à Pereira Coutinho! O que o VPV diz é óbvio- é que a política se tornou possidónia e as campanhas eleitorais são meros produtos de show televisivo.
Quem de lá sai, como quem dos partidos chega para líder depende desse mesmo efeito- o efeito que tanto leva um Lopes a 1º como o que lhe disputava o concurso televisivo em tempos- um outro clone de Lopes à equerda- o Sócrates.
E é óbvio que sendo nisto que a política e os líderes partidários se reduziram não há muito saber a esperar daqueles que ascendem a candidatos.
Que depois esses ainda sejam vendidos com balelas televisivas e que ninguém saiba o que fez Alegre pela Pátria ou que ninguém se lembre das traições de Cavaco ou das responsabilidades de Soares e de todos eles no estado da Nação, é produto disto tudo- de um mundo de plástico, de uma política de feira.
Não é o povo que tem culpa, foi, de facto, muita coisa que piorou.
Que no meio disto ele diga que o Soares ainda julga que se vive num tempo em que o saber e a cultura contam mesmo para as ligações internacionais é porque ele próprio não se apercebeu da mudança.
Foi isto, e tem sido isto que o VPV tem vindo a dizer. Não é política partidária mas serve para muito partidário a usar como arremesso contra a claque oposta. No Super_Mário fazem-no sistematicamente. È pena porque os pontos que o VPV aflora são bem mais importantes que a limitação clubística que ronda por aí.
É pena que não haja bloggers a pegarem-lhe e a fazerem um pouco de história política.
Já houve alguns esboços e desejos por parte do José da Grande Loja. Por mim lamento que não lhe sigam as pisadas em vez de perderem tanto tempo em claques inúteis seja à lobo ou à super-Mário... Mas enfim, fazer-se história dá trabalho e não dá pica e isto por aqui conta mais a pica em formato byte
já agora fiquei intrigada com essa "os intelectuais são assim"
és capaz de me explicar o que não é um intelectual que teorize e não seja assim?
chama-se o quê? motorista de taxi?
que raio quer dizer essa do intelectual? também vem de Hesíodo?
olha que se quisesse ser mazinha mandava uma boca... ai mandava mandava... é que os psicos sempre gostaram muito de se imaginarem fora da "intelectualidade"
Aprecio bastante o tema da decadência, até pessoalmente. Mas é inegável que em todas as épocas essa ideia resumiu e resumiu-se à bagarre política. Como ( esforçado, apenas) leitor de Nietzsche e do seu tempo, entendo que não poderia ser de outro modo. Claro que Soares é um político da alta cultura, dos salões, no bom sentido do termo: é por isso que gosto dele e já aqui o escrevi várias vezes. Mas tens um excelente ponto quando dizes que VPV faz uma espécie de identificação projectiva a Soares ( desculpa lá o palavrão psi): ele, Soares, é aquilo que VPV gostaria de não ver morrer. Agora, dizer em 1997 que há um século que não lhe entra ( a Soares) uma ideia na cabeça e nove anos depois reactualizar o desfazamento culpando a populaça, parece-me apenas...VPV. A coisa dos intelectuais é simples e tu sabes bem que sim: brechtianamente falando,"mude-se o povo"...
PS: és bela porque discutes belissimamente, até com um alinhavador de chavões como eu.
Bom, entendemo-nos no principal- nessa ideia do que Soares representa e que é bom que não morra. È por isso que é errado criticar-se o VPV por ser derrotista ou cínico. Ele é um pessimista mas nunca foi um pessimista conformado. É o oposto do JPP, nunca se instalou em nenhum tipo de conforto e é por esse motivo que imagino que a resistência optimista de Soares lhe agradem.
Daí a gostar do que o ?pensamento de Soares hoje em dia represente vai muito. Por isso é que também acho uma tontice os soaristas usarem-no para efeito de propaganda.
Quanto à crítica ao povo não faz sentido. Não bate certo- não é o povo é o mundo ?;O)
Beijocas e desculpa lá o tom um tanto agressivo, às vezes sou tontinha. O que vale é que também passa logo Olha, até passei o template do meu blogue ao doidinho do pirata que andou por aqui a apropriar-se dos nossos nomes. Confio sempre em quem tem sentido de humor. E se me enganar azar... ":O))
A rapariga está-me a desiludir... O Soares não é muito diferente do levezinho do alegre nem do técnico cavacal: é tão oco quanto eles. Será de outro tempo, será, que a idade não perdoa, mas já naquele tempo - porra, hoje um homem de 80 e picos é um rapaz da idade do meu velhote - in illo tempore, dizia, havia muito pechisbeque. Soares 'só' tem 2 qualidades, ou teve: o famoso faro para apanhar a onda e coragem. Não são pequenas virtudes, mas daí a fazer-se um estadista ou um 'humanista' vai por certo uma enorme distância. Depois, ó Zazie, o desgraçadao do VPV não é historiador mas um publicista, como se dizia no tempo do Soares, ou um plumitivo com jeito para ser inteligente. O que o safa é a azia (vantagens do uísque marado).
ó caro Anonymous, você não entendeu absolutamente nada do que se falou aqui, pois não?
onde é que eu escrevi que o Soares é um humanista ou que disse que era um exemplo para estatista?
você não percebeu mesmo nada. Não estamos a falar de eleições... Não me agrada que Cavaco ganhe mas também não me imagino a votar no Soares, nem gosto dele. Mas não era acerca disso que se falava. Você é que desilude pela incpacidade de entender meia dúzia de palavras simples.
Quanto ao VPV não ser historiador, dito por si deve vir de entendido na matéria. ´Por isso faça-me um favor: indique-me então bons historiadores da mesma época que me recomendava. E de caminho informe-me, só para me matar a curiosidade, do que leu do Pulido Valente. Ok?
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.