A NOTÍCIA DE QUE NINGUÉM QUER FALAR: Segundo as sondagens do DN (e TSF) de hoje (ontem), Manuel Alegre está perto dos 20% e Soares, o candidato do PS, não descola dos 11%. Ninguém comenta muito a coisa, as televisões fazem o frete e continuam a dar mais imagens de Soares do que de Alegre, mais importância a Soares do que a Alegre, mas os resultados das sondagens estão aí e ninguém, tirando Maria Barroso, pensa que são falseados.
É tão forte e tão alto que os portugueses gritam que não querem mais Mário Soares que eu, com alguma pesar, sou levado a pensar que não o fazem apenas por causa do candidato, como deveriam. É algo mais. Os portugueses têm aproveitado as eleições, quaisquer que elas sejam, para se queixarem e varrerem aquilo que não querem: já aconteceu com Guterres, depois com Santana; ainda há pouco, nas autárquicas, com o PS; e agora, novamente, com o candidato presidencial do PS.
Hoje, todos os grupos sociais, todas as corporações, todas as profissões, todas as classes já foram desprezadas, insultadas e maltratadas pelo governo socialista - mesmo que, de cada vez, com o apoio egoísta e invejoso de todos os outros. Mas como já todos levaram pela medida grande (com excepção da comunicação social e da classe política), quase todos se unem para combater este governo.
É bem certo que depois de 22 de Janeiro não haverá eleições tão cedo e por isso o PS poderá talvez respirar um pouco. Mas se não arrepia caminho na forma como tem tratado os portugueses - e uma vez que não haverá eleições que possibilitem a vassourada - sujeita-se a ser corrido à paulada.
Está a dar-se demasiada importância à sondagem diária do DN. Recorde-se que as sondagens da Marktest para o DN foram as que mais falharam nas últimas eleições autárquicas...
A sondagem da Universidade Católica para o "Público" e RTP, que será conhecida na 5ª feira à noite é que deve ser vista com atenção. Esta já é feita com simulação de voto na urna e com amostra por quotas, e não aleatória como as sondagens telefónicas do DN.
A sondagem da Católica dará uma perspectiva mais próxima do que se poderá passar no Domingo. Além do mais, qualquer que seja o resultado dessa sondagem, Cavaco estará sempre ligeiramente subrepresentado porque a mesma não contará com os eleitores da Madeira e Açores (onde Cavaco ganhará por larga margem), nem com as cidades médias e vilas do Norte e Interior Norte onde Cavaco também é muito forte. O Norte tem muito mais densidade populacional que o Sul, e históricamente também se verifica uma maior partipação eleitoral que no resto do país. Não é por acaso que quase toda a campanha de Cavaco Silva tem sido feita naquela zona.
Vamos então falar de Manuel Alegre, que quanto a mim tem beneficiado da condescendência da comunicação social, e até dos "apoiantes" de Cavaco Silva. Erradamente. E explico porquê.
Se há postura completamente artificial nestas eleições por parte de um candidato, tendo em conta o seu passado político, é a de Manuel Alegre. Não se conhece deste candidato nenhum pensamento estruturado sobre as Forças Armadas, ou sobre qualquer estratégia de futuro para o país, para além dos "sound bytes" banais que tem produzido ultimamente. Por isso, acho ridículo como é que alguma direita soberanista se revê neste candidato, que representa, isso sim a ala mais esquerdita do PS.
Convém não esquecer que Alegre contribuiu mais para a queda de Guterres, que o PSD e CDS. Não tenho pena nenhuma disso, apenas acho que o país não precisa de outro chefe de facção minoritária do PS em Belém. Para isso já bastou Jorge Sampaio. Portugal não precisa de outro presidente fraco como Jorge Sampaio. Pelo contrário.
Um PR não tem que dominar todos os assuntos. Mas Manuel Alegre não domina nenhum, como se viu nos debates, em que foi claramente o candidato pior preparado no desenvolvimento das matérias. Ainda há dias, quando questionado pelos jornalistas acerca das declarações do Ministro das Finanças sobre a falência da Segurança Social, Manuel Alegre foi confrangedor nas suas declarações. Comportou-se como o que realmente é: um mero deputado figurativo, da bancada de trás, que não sabe aprofundar nenhuma assunto e raramente intervém nos debates. Está lá apenas para ocupar o lugar a que partido tem direito.
Portugal não deve importar para a Presidência da República as tricas internas do PS. Candidaturas revanchistas são as de Soares contra Cavaco Silva e Alegre contra a actual direcção do PS.
Vou votar em Cavaco Silva porque acho que é o melhor candidato, porque se insere na área política que eu apoio (o centro-direita), e porque eu não quero que o PS tenha um presidente, uma maioria e um governo. O PS não o merece e nem sequer tem um candidato credível para ser Chefe-de-Estado. Nem o oficial, nem o "dissidente".
De facto, o síndrome anti-Soares é maior do que o homem em si mesmo considerado. Hoje, Soares desceu a isto: vestiu-se de moço de recados do governo nos estaleiros de Viana, transmitindo (qual chefe de gabinete) a bula papal vinda directamente da China, da parte de "son ami" o Ministro Luís Amado: afinal, nada ia ser privatizado.
A descriminação de Alegre é absolutamente notória, mas vamos ver se os indicadores (e os resultados) resistem a estas investidas demagógicas de Soares,querendo fazer prova que ele, sim, é que é o "pedreiro" acreditado na "loja"... Quanto a mim, este género de espectáculo (correia de transmissão do governo) vai tornar-se compulsivo nos dias mais próximos. A última cartada, de efeitos incalculáveis na mente caciquista dos portugueses.
O que sempre vale a pena observar sem pretensões analíticas, são alguns "flashes" desse sentimento anti-soarista: porque é que a paciência dos portugueses se esgotou? - intuição anti-monárquica? - a ideia de que a velharia tirada do baú significa o recurso dos recursos, e, mal por mal, ainda não chegámos lá? - a repulsa pelo abuso que significa? Espécie de "já se encheu o suficiente, ainda quer tomar-nos outra vez por parvos"?
Mas uma das coisas que mais me diverte neste serôdio remake (de casting) é a irritação suprema que o homem provoca entre as hostes da terceira idade! Aquela que supostamente ia sancioná-lo, pela afirmação da utilidade social dos "velhos"! Qual quê: não podem com ele! Ficam positivamente danados, a cena tira-os do sério. Porque será?! Seja como for, mais outra suposição que saiu furada ao pai da pátria...
Calma, Coração de Leão, calma. E espero que não me inclua nessa tal direita que se revê em Manuel Alegre, acaso exista. Brrrr... Até tremo de semelhante ideia!
LOL Não, não me referia a si. Apenas conheço pessoas que se "derretem" com Manuel Alegre cada vez que ele fala em Forças Armadas e Pátria. Este tipo de discurso devia inquestionávelmente ser proferido por um candidato da área do centro-direita (mesmo correndo o risco que lhe chamassem fascista...), porque isso é que é natural.
Infelizmente, a nossa "direita" é mais "materialista" que "idealista". (Idealista no sentido dos valores típicos de uma direita democrática e patriótica.) Por isso o discurso de Cavaco é tão "economicista" e pouco entusiasmante. Pelo menos para mim. Mas enfim, lá vou votar no homem, porque não se arranja melhor...
É isso, a condescendência com Alegre é absolutamente inconsequente. É o "ar dos tempos". Mas tb é verdade que o sentimento que desperta (em mim) só podia ser indulgente, pelo serviço que nos presta: dividir os votos...
Com Cavaco, é óbvio que é simplesmente aquilo que temos. Não é o ideal. Falta-lhe tanta coisa (e algumas delas são bem o paradigma dos "pontos fracos" da direita). Mas nas qualidades que possui, não fazendo o pleno, tem as que considero absolutamente essenciais..
Pôs-se a correr a ideia de alguma direita votar Alegre, apenas como estratégia anti-Soares. A direita é complacente para com Alegre apenas para ficar mais descansada. A direita, que usou (e bem ...) Soares nos velhos tempos do PREC, tem agora novo protector. Só não entendo como pode uma direita "não-pimba" votar Cavaco ! Para ter uma pequena alegria (salvo seja !)? Por que julga que Cavaco vai correr à paulada Sócrates ? Enganam-se. Cavaco, num primeiro mandato, como é habitual, não levantará ondas e será muito mais próximo de Sócrates do que Soares. Finalmente, como pode uma direita civilizada, educada e culta (há disto ?) votar num senhor professor de raiz rural, a roçar a parolice e francamente ignorante para além do 2+2 ????
Não sei se a imagem do pau é a mais feliz... Parece mais uma discussão dos pauliteiros de Miranda do que análise política séria. Tirando isso o post até nem está mau. Esquece-se apenas de dizer que as reacções ao comportamento do governo são essencialmente corporativas e por isso mesmo bolsas de resistência ao progresso. Ou seja, o que é bom eleitoralmente não é necessariamente o melhor para o país.
Meu caro, Santana perdeu mas não branqueie Barroso e F. Leite. Quanto ao que o Governo está a fazer é devolver a decência a este País, cujas corporações começaram a ser alimentadas pelo Sr. Silva, que plano estratégico para o País, tinha nenhum. Tratou-se de alimentar os lobbies, encher os estado com o cartão laranja, aumentar a corrupção, etcc... tudo para ganhar eleições. Não se iluda tudo começou aí. É certo, continuou c/Guterres. Mas agravou-se com D.Barroso e F. Leite, que com uma jogada de mestre fugiram e colocaram no Governo um bode expiatório. Santana.O perfeito anjinho. Depois, Cavaco tira-lhe o tapete. Porque sabe bem que com um Governo de direita nunca será eleito. O que este Governo está a fazer é o que tem que ser feito, não seja demagogo.Afronta as corporações?Claro.E quem é que pensa que vai votar Cavaco? Mais, se tiver alguma massa cinzenta (o que desconfio) verá que a sondagem da Marktest é muito pouco fiável. Se quiser uma fonte autorizada vá ao Margens de Erro. Está lá tudo. Mas não cante já vitoria meu caro, ainda pode ter uma surpresa...
Hoje, no Forum da TSF sobre as sondagens, às tantas ouvi o Pedro Magalhães (Director do Centro de Sondagens da Católica) e (pondo as barbas de molho como o Mais Livre já alertou) a dizer que ?as sondagens não servem para prever resultados eleitorais, servem para descrever intenções de voto?, ?para o eleitorado da direita o Cavaco é o seu candidato? e até que ?as eleições decidem-se no voto e não nas sondagens?.
Nessa altura, mais do que nunca ficou para mim claro que estas ?sondagens? (e particularmente as ?diárias? do DN e da TSF) foram a arma a que desta vez os cavaquistas (i.e. os grupos económicos e financeiros que pretendem pôr Cavaco na PR), deitaram a mão com mais força, para nos levarem na conversa deles..
Estas ?sondagens? tentam fazer Cavaco parecer o que não é. Tentam dar dele a imagem de ?vencedor?, escondendo que Cavaco é um candidato banal e minoritário. Banal, como se viu pelas generalidades que debitou nos debates e continua a debitar na campanha. Minoritário porque só tem o apoio do PSD e do PP. E bem nos lembramos das encenações com o Veiga e o Carlos Beato para ?provar? apoios fora do seu campo, quando o Veiga se representa a si próprio e o Beato já antes o tinha apoiado...
Isto é tentam vender-nos o Cavaco como (durante muitos anos) nos venderam o sabonete Lux, não porque fosse um sabonete melhor do que os outros, mas porque era usado por nove em cada dez estrelas de Hollywood. Agora impingem-nos Cavaco, não porque seja melhor mas porque 60, 55, ou 53 por cento dos portugueses alegadamente vão votar nele...isto é, jogam no facto das pessoas gostarem de apostar no cavalo vencedor.
Mas estas ?sondagens diárias? têm tão pouca credibilidade que nem sequer o Pedro Magalhães as inclui no gráfico do seu blogue Margens de Erro. É que as variações diárias que desde o dia 9, fazem as manchetes do DN e da TSF, estão todas dentro da margem de erro da própria sondagem e assim essas tais variações diárias podem portanto não significar rigorosamente nada. Mas disto ninguém avisa nem os ouvintes da TSF nem os leitores do DN...
Mesmo ?pegando? nestas ?sondagens?, em números brutos nem uma única vez sequer o Cavaco atingiu os 50%...no máximo foi aos 48% em 10 e 11 de Janeiro e hoje quedou-se pelos 41%. Isto é, nas 600 pessoas que em quatro dias foram inquiridas, nem 300 disseram que vão votar nele e hoje 240 dizem que sim mas 360 dizem que não.
E assim, apesar das ?sondagens? se esvai a máscara do Cavalo Vencedor e começa a surgir o verdadeiro Cavaco Perdedor.
As sondagens ? não as subestimemos ? são técnicas poderosas para fazer a cabeça às pessoas, para criar modas, para nos porem a comprar coisas de que antes nunca necessitámos, para nos porem a simpatizar com quem não conhecemos (ou vice-versa). As sondagens custam dinheiro, muito dinheiro. Por isso quem o tem e quer atingir um determinado fim usa e abusa delas.
Mas sendo as ?sondagens? a arma ?deles?, é bom que a malta não esqueça que o voto é a nossa arma. E eu como trabalhadora e mulher vou usar o meu voto para eleger o nosso candidato: Jerónimo!
Tantas pontos de interrogação pelo meio do texto...espero que não sejam sintoma de um fundo indisfarçado de dúvidas sistemáticas... É que Jerónimo e espírito cartesiano...não jogam!
Mas ainda bem que descreveu àté à exaustão aquilo que considera ser a mecânica eleitoral que conduz à vitória para o cargo de PR: estão listados os "inputs", quer do lado do candidato vencedor, quer do lado deste nobre povo. Ficámos todos a saber, assim, por que artes chegaram até lá, até hoje, os PR de esquerda que o PC ajudou a eleger! Obrigada pelo esclarecimento.
Custa-me tanto a crer que alguém se possa encantar com um discurso redondo como o de Alegre, que nada diz de substancial, como que se encantem com a figura de pai da pátria, fazendo elogiosamente para muitos, recordar o também para muitos saudoso Salazar. O primeiro nada diz por falta de conhecimentos, o segundo nada diz por estratégia. E é disto que os portugueses gostam. Eu não voto em nenhum dos dois!
É espantosa a capacidade de sedução balofa de certa direita. Hoje vi Filipe Meneses elogiar Jerónimo de Sousa. Por lucidez, disse ele. Quer dizer, é óbvio que a direita dirá bem de todos os candidatos que possam dividir os votos e possibilitem a vitória de Cavaco. Se, por uma qualquer "sabedoria" desconhecida, houver segunda volta e Alegre for o opositor do Professor, veremos como se acabam as admirações ! Umas palavras ainda para FNV. Ei-lo que segue a caminho do seu verdadeiro desígnio : por contra-ponto ao Bloco de Esquerda, ele fará nascer um Bloco de Direita, uma espécie de clube da direita moderna "ai eu quero ser Ezra Pound quando for grande" !!!
Olha o FNV a atirar para a bancada e a virar as costas (olimpicamente !) ao jogo ... Antigamente havia a "superioridade moral dos comunistas". Agora, temos esta nova superioridade da intelectualidade, juvenilmente a demarcar-se de tudo aquilo que possam pensar que eles pensam ! Há um óbvio marialvismo no discurso (será alegre votante ?). A referência a uma hipotética antiga namorada (despeitada já se vê), desenha a figura.
Transponho do Avante para aqui este artigo muito interessante;
Sondagem Marktest/DN/TSF Muita parra, pouca uva
Vítor Dias, Avante, 19/01/06
Não é arriscado conjecturar que a sondagem diária sobre intenções de voto nas presidenciais elaborada pela Marktest e quotidianamente divulgada pelo Diário de Notícias e pela TSF desde o passado dia 9 possa ter tido alguma repercussão sobre os «estados-maiores» das candidaturas e, seguramente em maior grau, sobre muitos leitores e ouvintes daqueles dois órgãos de informação.
Por isso mesmo, julgamos útil alinhar sobre esta sondagem um conjunto de informações e observações críticas. Assim:
1. Este tipo de sondagem é de facto inédito em Portugal e, pelo menos para os nossos costumes políticos, constitui um elemento extraordinariamente perverso no plano político e talvez também muito discutível do ponto de vista técnico. Trata-se da importação da chamada «tracking poll» praticada nos EUA e que consiste, conforme documento da Marktest disponível no seu site, em fazer uma sondagem inicial com 600/618 entrevistas e depois, em cada dia, ouvir 150 novos inquiridos e substituir os 150 mais antigos, o que significa que só ao fim de quatro dias a amostra está totalmente renovada, estando entretanto previsto que em 15,16,17 e 18 de Janeiro esse número subirá para 350.
2. Em nossa opinião, a acentuada perversidade política desta sondagem está em que, pelo seu próprio objectivo ? mostrar a evolução das intenções de voto dia a dia ? tem um grau ainda maior de «atractivo» e de «credibilidade» para o cidadão comum quando, na verdade, para este tipo de sondagem valem, de forma agravada, todas as reservas e prudências que se deviam aplicar às outras sondagens.
3. Na verdade, sem que a generalidade dos leitores se aperceba disso ou disso tome completa consciência quanto às consequências, a famosa evolução diária das intenções de voto resulta afinal da inquirição de 150 pessoas, o que constitui uma amostra pequeníssima (ainda por cima numa sondagem feita pelo telefone). E se a Marktest diz que esta sua sondagem (supõe-se que globalmente) tem uma margem de erro de 3,97 %, já não nos diz no entanto qual é a margem de erro desta inquirição diária de 150 pessoas, a qual tem de ser necessariamente mais elevada. Uma coisa é certa: numa «tabela de erros» que publica no documento acima referido, a Marktest desvenda que uma sondagem baseada em 200 pessoas pode ter margens de erro (variáveis segundo a votação de cada candidato) que vão dos 3% (para quem tiver 5% dos votos) até aos 6,9% (para quem tiver 55% dos votos). E explica também aquilo que toda a gente tende a esquecer, ou seja o que significam as «margens de erro»; com efeito, diz a Marktest na página 8 do citado documento:: «O que é que significa (no caso de um candidato com 11,2% na sondagem) uma margem de erro de 2,6% com um grau de confiança de 95%? Significa que (com uma probabilidade de 95%) o resultado efectivo deve encontrar-se entre os 11,2 menos 2,6 e 11,2 mais 2,6, isto é entre 8,6% e 13,8%». Ora o que é por demais evidente, mas disso ninguém avisa os leitores do DN e os ouvintes da TSF, é que as famosas variações diárias nas intenções de voto de cada candidato caem todas dentro da margem de erro e podem portanto ou nem sequer existir ou terem outras quantificações.
4. Como muitas outras, esta sondagem e os seus resultados podem sempre ser afectados por dois fenómenos muito conhecidos: um é o valor que a abstenção virá a ter no dia 22 porque há manifestamente muitos eleitores que «votam» nas sondagens mas não põem os pés nas assembleias de voto; outro é que esta sondagem também pratica o método de distribuir os que não sabem, não respondem, não votam e votam em branco (no total, quase sempre à volta dos 20-21%) na proporção das intenções de voto realmente manifestadas em cada candidato, o que ninguém sabe se virá a acontecer assim, por maioria de razão numa eleição em que é legítimo admitir que haja mais indecisos à esquerda do que no campo eleitoral da direita. Mas tem um problema suplementar que deriva do facto de, com excepção de Cavaco Silva, todos os outros candidatos, em grau diverso, aparecerem com intenções de voto médias ou mais pequenas a que correspondem necessariamente amostras de inquiridos igualmente médias ou mais pequenas, o que potencia naturalmente desvios e erros.
5. A questão fica mais clara se dissermos que nesta sondagem e no seu tratamento jornalístico o grande truque está em falar só de percentagens e nunca do número de pessoas que elas representam. A este respeito, é bom lembrar que no arranque inicial da sondagem, e falando dos resultados brutos, aos 47,9% atribuídos a Cavaco Silva correspondiam as intenções de voto de 291 inquiridos; aos 11,2% atribuídos a Mário Soares as de 68 inquiridos; aos 9% atribuídos a Manuel Alegre as de 55 inquiridos; aos 5,4% atribuídos a Jerónimo de Sousa as de 33 pessoas; aos 4,8% atribuídos a Francisco Louçã as de 29 pessoas; aos 0,2% atribuídos a Garcia Pereira a de 1 inquirido (matematicamente, com mais uma pequena parte de outro inquirido). A estes 478 inquiridos que expressaram intenções de voto concretas inquiridos há que juntar, para completar o universo da amostra, 130 inquiridos que constituem o grupo dos «não sabe», «não responde», «não vota» e «vota em branco».
6. Mas, dado o método específico desta sondagem que é a inquirição de 150 inquiridos em cada dia, importa saber afinal a quantas pessoas correspondem as «excitantes» variações díárias das intenções de voto. O que se desvenda explicando que, nesta amostra diária de 150, para manterem as intenções de voto com que arrancaram na sondagem no dia 9/1, os candidatos teriam de ter, em cada dia as intenções de voto de 73 inquiridos para Cavaco Silva, de 17 para Mário Soares, de 14 para Manuel Alegre, de 8 para Jerónimo de Sousa, de 7 para Francisco Louçã e de ¼ de inquirido para Garcia Pereira. Ou seja, as flutuações diárias que a sondagem Marktest/DN/TSF apresenta no que respeita a cinco candidatos correspondem a amostras eleitorais muito diminutas, que não dão nenhuma segurança, que são propícias a desvios significativos e em que as proclamadas oscilações podem muito bem ser filhas de mero bambúrrio ou acaso. Talvez fique tudo dito se explicarmos que basta Jerónimo de Sousa, num determinado dia, nas 150 inquirições, em vez de ter os tais 8 cidadãos que declaravam a sua preferência pelo candidato comunista, os telefonemas apenas encontrarem 5 para aparecer como tendo perdido 0,5 pontos percentuais, passando por exemplo de 5,4% para 4,9% nos resultados brutos e, em termos de estimativa, passar dos 6,9% iniciais para 6,2%. E, como é bom de ver, para recuperar dessa alegada baixa, precisaria que, no dia seguinte, os telefonemas, em vez de 8 votantes em Jerónimo de Sousa, encontrassem 11.
7. À beira do fim, ainda quatro notas suplementares. A primeira é para estranhar que, segundo a decomposição geográfica da amostra divulgada pela Marktest, seja no «Interior Norte» que há o maior número de inquiridos 135 - mais 13 que na «Grande Lisboa» a qual, se significar os distritos de Lisboa e Setúbal, tem apenas essa ridicularia de 2.466.711 eleitores inscritos. A segunda é para registar que a Marktest, pelas referências que faz à fidelidade de voto e à composição partidária do voto de alguns candidatos, sabe qual é a composição política da amostra e, se assim é, devia divulgá-la para termos a certeza de que não há fenómenos de sobrerepresentação e subrepresentação. A terceira é para, pela enésima vez nestes últimos 20 anos, continuarmos a estranhar que, nas noites das eleições, as empresas de sondagens e os órgãos de comunicação social publicitem resultados das sondagens à boca das urnas sempre com margem de variação ou incerteza ( por exemplo, partido tal entre 38 e 42% ou partido tal entre 6 e 8%) mas já nunca o fazem durante os outros 364 dias do ano. A quarta e última nota é, evidentemente, para reafirmar que mal fará quem deixar que a sua consciência, convicções e vontade sejam atropeladas pela influência das sondagens
Devemos deduzir de tudo isto que só poderemos levar as sondagens a sério se estas puserem a esquerda à frente do centro-direita, em geral, e Soares à frente de Alegre, em particular?
VLX: Tiro certeiro... Só um cego não vê o que faz abalar a fé - e de quem - na credibilidade das sondagens eleitorais! Mas vá lá admitir-se isso... Quando tudo é afinal pura objectividade e duro criticismo científico!
VLX, não esteja preocupado. Para si, as sondagens estão correctas ... é claro, Cavaco aparece à frente ! Há um leve termor por surgir agora essa informação de poder haver segunda volta, mas enfim ... Deus Nosso Senhor e a Virgem Santíssima hão-de colocar em Belém o senhor Pufssôr e mais a sua família, para gáudio dos idolatras da família portuguesa ... com certeza. Ao ponto a que chegaram !!! Vcs vão votar num boçal !!! Vcs vão votar no rapaz da gasolineira !!! Tstststs ... um Lobo Xavier, um Nunes Vicente, quiçá mesmo um Mota Pinto (este tenho dúvidas ...) a votarem no pacóvio e a elevarem a primeira dama, a Dona Maria ? Ao que o mundo chegou ! É o demo ... é o demo !!!!!!!!
Não percebi este anónimo: você quer alguém de boas famílias na presidência da república, alguém decente que faça bom papel ou tudo junto? Para "tudo junto" não há, teríamos de adiar as eleições; de boas famílias (no sentido que lhe quer dar) também não apareceu ninguém; decente e que faça bom papel só há um - que alternativa quer você?
E, de resto, não lhe parece um bocado imbecil vir com essa do "rapaz da gasolineira"?
Não acho !!! O Pufssôr Cabaco havia de gostar de ler a sua prosa ... Talvez nem percebesse bem a natureza do discurso. Vcs usam-no !!! Simplesmente isso. Usam-no !!! Nem que para tanto se tenham de colocar ao nível do pessoal que bebe umas "minis" no bar da gasolineira. É verdade que é gente que não se mete em greves nem incomoda os senhores doutores empreiteiros, mas caramba ... é povo ... e se lhes pisam muito os calos ainda levantam cabelo ! Ao que estes queques chegaram !!! As boas famílias que dominam o País, tanto se fazem de Pufessôgues de Boliqueime, como de "gangsters americanos" retirados para Coimbra ! Tome lá as suas "boas famílias" ... Você falava de dinheiro, não era ? Eu julgava que era de educação e "nível" ...
Ó Anónimo! Tanta raivinha acumulada, hem?! Mas porque é que vens destilar fel em público? Já sabes muito bem que um blog é necessariamente um templo de entronização dos seus autores! Espécie de espelho da madrasta da Branca de Neve, topas? Mas se não gostas dos deuses nem dos oráculos, porque é que vens cá espreitar, ler e escrever?! Isso é que nunca perceberei, confesso?
Olha lá, ó Anónimo, agora e aqui que ninguém nos ouve? vou-te fazer aquela pergunta fatal, aquela que te tira do sério... - E tu? -Tu "a quem pertences"?
-Aos queques? - Aos da gasolineira? Ou aos Professores? -
Hummm...vejamos:
- Aos primeiros, não, de caras. (Um rapaz de "boas famílias" assinaria o comment, nem que fosse com um nick que para todos os efeitos o identificasse. Questão de nível e educação, remember?)
- Aos segundos, duvido. Mas se é o teu caso, deverás pertencer aos "rapazes da gasolineira" de tipo mentecapto - honra feita aos outros da mesma espécie em geral -, porque senão, gostarias do Cavaco; punhas os olhinhos nele e tentarias sair da gasolineira de mansinho para um dia ser administrador da GALP; e sobretudo não darias nunca ao termo o sentido que lhe quiseste dar.
- Aos terceiros...será? Não sei, não sei, a educação de facto anda mal neste país, não me admirava...Mas por outro lado, um professor resiste lá aos direitos de autor, abdicando de registar a patente dos seus escritos?! É de facto conhecida a obsessão pela propriedade intelectual deste vasto e crescente grupo de sábios (da vetusta Coimbra à esforçada UAL e quejandas), por isso??ná??terias assinado se fosse um deles! A não ser que...não me digas!!! Possas ser um daqueles que nem o título ainda merece porque não fez a tesezita...e daí o recalcamento. É normal, alguns nunca se curam?
Não. Definitivamente, tu não "pertences".A nada. Era escusado era vires exibir a orfandade em público? Fica-te mal.
Tens razão. O que vim eu aqui fazer ? Pensei que o espelho da madrasta fosse tão obediente que me desse a resposta que queria. Mas não. Como não falo a mesma língua, disse-me logo que todos vós, supremas criaturas, eram bonitos do que eu. Grande desilusão. Logo a mim, um queque pufesgôr, sócio de uma gasolineira. Mesmo assim, estou contente. Deixei-vos o palácio em alvoroço. Nunca "o mar" tinha tido tanta gente a mergulhar num só post !
Ó Anónimo: Se ainda cá vieres, leva lá só este recado: com o último comment é que tu te traiste! - Então tu julgas que a afluência ao post se te fica a dever?! Mas que arrogante presunção!!! Afinal sempre usas o mesmo espelhito...estás a ver? Foi assim que avaliaste as tendências de voto,com igual espírito matemático? Nem imagino as conclusões mirabolantes a que chegaste... Mas numa coisa tens razão: na diminuta medida em que aumentaste as entradas no post, para te responder, tiveste mais atençãa do que merecias. Esta foi a última vez...
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