OS CANDIDATOS: Se transportarmos os candidatos presidenciais para a nossa vida particular, o resultado será mais ou menos este: Garcia Pereira: O vizinho incómodo, que se queixa de tudo e de todos e, sobretudo, da administração do condomínio. Na maior parte das vezes é um chato. Nas restantes, tem muitas vezes razão e gostamos de o ouvir. Francisco Louçã: O primeiro namorado da nossa filha. Percebemos logo à primeira que ela está enganada e que se trata de um "tanguista". No entanto, o melhor é não dizer nada e deixá-lo desmascarar-se sozinho, sucumbindo a paixoneta no confronto com a dura realidade. Jerónimo de Sousa: O antigo mecânico do bairro, simpático e de confiança. O problema é que se especializou em "bocas de sapo" e o modelo já não se fabrica. Mário Soares: Aquele amigo culto, inteligente, interessante, que não o das confidências mas sim o da melhor companhia para gozar dos prazeres da vida. Não o convidaríamos para sócio mas seria sempre uma primeira escolha para ir jantar fora. Manuel Alegre: O velho amigo dos grandiosos projectos que inúmeras vezes se conversaram mas que nunca se concretizaram. Cavaco Silva: O cinzento mas mui competente e sério tecnocrata, que contrataríamos para dirigir a nossa empresa e podermos dormir descansados. Não iríamos jantar com ele mas precisaríamos dele para poder ir jantar com Mário Soares.
Não há dúvida que a vida haveria de ser interessante e as partes comuns do prédio deveriam estar sempre um brinco, mas, pelo sim pelo não, convinha estar sempre de olho na filha.
Correcção (se me é permitido):o Jerónimo nunca teria sido especialista em "bocas de sapo"; tem ar de quem se dedicava antes a Portaros, modelo romeno-português, e que também já não se fabrica..
Sim, também me parece que conviria manter uma vigilância apertada sobre a filha, porque existiria risco sério de danos psicológicos irreversíveis.
Apenas umas breves(soit disant ...)notas adicionais: Garcia Pereira. Podemos gostar de ouvi-lo. Mas o que ele pensa sobre o que é o condomínio e o que quer fazer dele é exactamente o oposto do que querem todos os outros condóminos. Além disso, vive no único T5 que há no prédio mas quer pagar uma quota para despesas exactamente igual à que pagam os todos os restantes T2. Francisco Louçã: Para além de tudo, custa ouvir a nossa filha a chamar-lhe ?Anacletinho?, enquanto ele a mimoseia com a ?canção do bandido?. Jerónimo de Sousa: o problema não é tanto ter sido um especialista em ?bocas de sapo?. O verdadeiro problema é que ele quer continuar a querer tratar as actuais ?injecções electrónicas multiponto? e os sistemas ?common rail?, como se estivesse a afinar um carburador Weber invertido, Solex duplo corpo ou uma injecção Perkins. Mário Soares: Novamente o problema não é ir jantar com ele. O problema é que caso se convide o Dr. Mário Soares para jantar, ele vai, mas leva três amigos. Os quatro pedem o prato mais caro. No final do jantar ele oferece charutos aos seus três amigos, fuma também um, manda pô-los na conta mas nem sequer pergunta se também queremos fumar ou se por acaso, o fumo do charuto nos incomoda. No final, pede ele a conta ao chefe de mesa, para fazer figura, e depois manda-nos pagá-la com a recomendação de deixar também avultada gorjeta. Manuel Alegre: É verdade que com ele se pode falar de grandes projectos. O pior é que ele leva a sério o poema de Florbela Espanca: Ser poeta é ser mais alto, é ser maior dos que os homens! Para ele concretizar projectos não é para poetas, é para homens. Cavaco Silva: Honesto e de confiança, sem dúvida. Porém enquanto jantamos com Soares ele não é capaz de despedir o capataz da empresa, contratado a termo certo, que tem um terrível mau feitio, é arrogante apesar de totalmente ignaro, e que em breves momentos pôs todos os funcionários da fábrica em polvorosa. Quando se regressa do jantar já ninguém se entende na fábrica, mas ele continua à espera que o prazo do contrato termine para despedir o capataz.
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