PAULO A ATRAVESSAR A PORTA CAPENA: Dizia Pascoaes que projectou outro gosto, o da cinza e o da maceração da carne. Esse gosto é o último? Uma equipa da Universidade de Michigan estudou a variação dos desejos finais entre diversos grupos étnicos e raciais ( o trabalho foi publicado no Journal of the American Geriatrics Society, vol.54, No 1, January 2006). Há de tudo: desde os que preferem morrer em casa ( sobretudo hispânicos) até aos que assinalam como mais importante deixar as finanças em ordem, como os árabes. A questão de género também aparece: as mulheres hispânicas e afroamericanas preferem, mais do que os seus homens, uma intervenção clínica acentuada nos momentos finais. Regressando ao gosto na boca ( ou na alma), recordo-me de alguém que morreu há dois anos. Tinha-a ajudado em psicoterapia, ficámos amigos, pediu-me para a ir ver nos dias do fim. Disse-me: Filipe, isto está pronto: já não terei tempo de te mandar a abóbora. Ele há pessoas assim, como os árabes do estudo, desejam deixar os seus assuntos em perfeita ordem. E você, como quer que seja o seu último dia?
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