R-E-S-P-E-C-T: Tony Blair, o homem que há uns anos divertiu a opinião pública mundial ao propor que os polícias passassem a aplicar multas on the spot aos bêbados e outros públicos perturbadores, conduzindo-os sob custódia a máquinas especialmente concebidas para a cobrança, lança agora o plano que a História guardará como símbolo perfeito da sua personalidade. Chama-se "Respect Action Plan" (suspeito que o nome tenha sido cuidadosamente escolhido, de maneira a que o acrónimo resulte num moderníssimo e culturalmente inclusivo RAP) e pode ser descarregado aqui (pdf). Ainda não li todas as 44 páginas do documento, mas os slogans em maiúsculas são sérios candidatos à secção Frases que impõem respeito: o holístico "everyone is part of everyone else", o enigmático "the foundation of our future are our young", o otisreddinguiano "respect broader, deeper, further" e o aristotélico, e não menos perigoso, "the whole is greater than the sum of its parts" (pessoalmente, sempre achei o contrário; mas deve ser da minha educação religiosa). Nos seus pontos mais admiráveis, prevêem-se parenting classes (p. 19) e despejo temporário dos proprietários (sim, proprietários) de residências que evidenciem, persistentemente, comportamentos anti-sociais: "ruído, visitas constantes a qualquer hora, lixo e vandalismo" (p. 32). Se a coisa for por diante, as famílias britânicas já sabem: para festas até altas horas, terão de utilizar os seus cottages em Essex; as visitas constantes, a qualquer hora, só poderão ser recebidas no recato das suas villas de Hampstead; os graffitti, só encomendados pela Tate Modern. Até ao momento, não foi possível confirmar o envolvimento do Prof. João Carlos Espada no RAP, apesar de este Plano ser já um pequeno mas decisivo passo na educação para a gentlemanship. Como escrevia o Will Self, há cinco anos atrás, "it's all in the tone, Tone, isn't that right?".
clap clap clap viva Blair! Olha lá, é impressão minha ou o documento é omisso quanto à natureza do ruído, digamos , intímo? Voltarei lá com mais cuidado, mas tenho a ideia que sim.
O Holismo Aristotelico tem, certamente, os seus perigos, mas rejeita-lo nao me parece uma solucao. A sociedade nao e' apenas uma soma de atomos, e, num certo sentido (repito: num certo sentido), "everybody belongs to everybody else". A vida de cada um faz-se com os outros (o que e' uma comunidade se nao isso mesmo)e ai ha um bem social que nao se pode reduzir a uma soma de bens individuais. A sociedade acaba por ser um contexto onde cada um pode viver a sua vida, e esta medida de Blair (concorde-se ou nao com a sua substancia) e' algo que se debruca sobre isso mesmo: o contexto onde todos vivemos e do qual dependemos para sermos individuos (o individuo nao e' um atomo)
Claro, João, a vida faz-se com os outros, Sein ist Mitsein & etc., nenhum indivíduo (por acaso prefiro pessoa) vive fora da comunidade. Suponho que esse seja o "certo sentido" a que se refere. Mas, sendo embora assim, continuo a achar que esse "todo" é menor que a soma das partes, porque há uma dimensão pessoal subtraída à regulação pública, onde se incluem várias liberdades, p. ex., a de receber quem se quer, a que horas se quer, em casa. Sempre tive medo dos comunitarismos, sobretudo quando vêm travestidos do "nosso próprio bem". Há, a propósito, uma frase do Sr. Blair, no prefácio ao Plano, muito esclarecedora: "everyone can change - if people who need help will not take it, we will make them". Sound byte de belo efeito, não é? Cumprimentos,
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