NUMA MORTE DE RILKE: No vigésimo aniversário do passamento do poeta, a 29 de Dezembro de 1946, Heidegger proferiu uma pequena conferência para um auditório privado sob o título " Para que servem os poetas?". Heidegger aproveitou a elegia de Holderlin que indaga "da utilidade dos poetas em tempos de penúria". O lenhador discorreu, nesse dia, sobre o tempo de penúria do Ocidente: oculta a essência da morte, da dor e do amor, a penúria nascendo do rechaçar permanente do abismo do ser. Palavras difíceis? Não tanto. Qualquer psi honesto (e que exerça) compreende as palavras de Heidegger: morte, dor e amor só existem hoje para serem combatidos sem tréguas. A morte, porque inevitável, é combatida negando a sua natureza: só se morre por descuido. A dor é perseguida tenazmente por exércitos de profissionais dedicados, pois que ela é apenas produto de escolhas insensatas. O amor foi há muito enterrado, nas trincheiras do direito, pela retórica libertadora dos tribunos: é uma opção. Um fantasma, uma estupidez e uma escolha: não espanta que os tempos sejam de uma saudável penúria. Sem abismos, apenas planícies.
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