O ECUMENISMO DA AUSTERIDADE: Por causa do pequeno circo que se montou à volta das caricaturas de Maomé, assistimos a um fenómeno peculiar. Alguns - não todos - dos que mostram hoje muitas reservas em relação à publicação das ditas, por constituirem, dizem, ofensa a uma religião, não tiveram pejo em afirmar, num passado recente (e imperfeito), que a responsabilidade pelo terrorismo da Al-Qaeda e congéneres se devia imputar, em último termo, à própria religião islâmica. O paradoxo só pode explicar-se pela intervenção do factor riso. Afirmações daquela natureza ganham uma certa dignidade quando postas num plano cognitivo, sujeitas a uma discussão teorética para a qual se convocam teólogos e outros sages (é uma religião pacífica, não é uma religião pacífica, etc.). Mas parece já não ser tolerável um statement com o mesmo conteúdo feito através de uma caricatura - isso é ofensa e falta de respeito. Definitivamente, Umberto Eco tem razão: o riso não apraz às congregações religiosas - mesmo quando cai sobre o vizinho do lado, até inimigo circunstancial. Eis o ponto de convergência, a trégua insuspeitada, a "ponte" entre "culturas". Tenho algum medo. (Act.: como o Luís, que já o tinha dito).
Caro Dr. PC Em relação ao seu excelente post. Nesta questão das liberdades, como em qualquer outra questão, existe para mim um conceito que parece deveras esquecido: as liberdades (sejam quais forem) terminam quando começam as liberdades dos outros. Ou ainda, as liberdades devem coexistir com as outras liberdades. Quando a liberdade de expressão colide com o princípio do respeito ou da ofensa, não parece que tenha a legitimidade de ser expressa. E não é só a questão do respeito pela liberdade religiosa e a ofensa (grave) ao islamismo. Para mim está subjacente que os cartoons não foram meros exercícios de criatividade lúdica e satírica. mas sim anti-semíticas e racistas. A ofensa não foi dirigida apenas ao extremismo e radicalismo muçulmano. Mas a todos os que acreditam que o Islão e o Alcorão são de paz e pacíficos. A todos os que estão cansados de serem constantemente apelidados de terroristas, sem que nada tenham contribuído para tal (antes pelo contrário). Nós, continuamos com aquele sentimento de superioridade civilizacional que, às veezs, lá produz conflitualidades do género, para as quais depois não temos solução. Cumprimentos
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