UM RETRATO: Deixei de fotografar há oito anos ( e não fazia nada de jeito), por isso descrevo. Sai-se de Seia, passa-se a rotunda da GALP e toma-se a direcção de Nelas. Um quilómetro andado, vira-se à esquerda e prepara-se um carro e a paciência para uma picada de terra batida, sulcada por valas e rifts traiçoeiros. Ao fim de dez vagarosos minutos, bispamos três homens sentados à soleira da porta, a fumar e a conversar. São os pastores, aos seus pés três enormes cães serra-da-estrela gozam o sol do final da tarde. Julguei ser o fim da tarde e da viagem. Mas não, são mansos, e pudemos sair do carro. O dia está frio e brilhante, mas o que eu quero está dentro de casa. À minha direita, a trezentos metros, num largo prado encostado à serra, quase trezentas ovelhas bordaleiras, castanhas e lanosas, acotevelam-se como deputados em dia de votação de orçamento. Toda a gente é sorridente, amigável, as queijeiras estão a fazer queijo. A casa arrebenta-me as narinas com o cheiro doce do leite coalhado, dezenas de grandes rodelas amarelas descansam da cura, em duas câmaras com temperatura controlada. Tudo o resto é português: há lixo espalhado pela quinta, desde triciclos partidos até bidões ferrugentos. Os homens levantam-se, os cães seguem-nos obedientes, vão recolher as ovelhas. "Não há lobos?", pergunta a viajante mais nova: "Há, há, mas são outros, por vezes roubam ovelhas e vêm em quatro rodas em vez de quatro patas", responde um dos pastores. E lá seguem, os verdadeiros binómios cinotécnicos, a caminho do seu trabalho.
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