A SURPRESA: Estou na cama da enfermaria e os meus amigos já não conseguem visitar-me. Proibi a entrada à minha mulher e aos meus filhos, quero estar sozinho. Sonhei demasiado com estas últimas horas, são minhas. Não só as tenho como disponho delas, o que verdadeiramente me acontece pela primeira vez na vida. São horas únicas porque são as últimas e, por isso mesmo, serão o que eu quiser que elas sejam. Uma cama, um corpo, um fim. Tememos isto toda uma vida (adulta). Não há surpresas, só o cheiro de hospital e o ruído longínquo dos corredores. Olho para as minhas mãos - flácidas, magras e amareladas - e parece-me um milagre que ainda respondam. O terror comparece à hora marcada como o rosnar de um rafeiro medroso; já não há nada a temer, já se sabe tudo.
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