NO MEU LICEU: Lembro-me ainda muito bem da trabalheira que era gazetar às aulas de ginástica. Tínhamos de passar o dia todo, desde as oito e meia, a averiguar as intenções de cada um e a auscultar quem pretendia faltar à aula de ginástica do fim do dia. Não interessava o motivo, podia ser um namorico, desfazer uns finos no Fernando do Avenida, ir para casa mais cedo ou simplesmente preguiçar mas era fundamental combinar com os colegas, saber quem iria faltar, se necessário negociar a falta, trocá-la com a de semana seguinte, enfim... fazer qualquer coisa para não dar nas vistas.
A razão desta trabalheira é óbvia: não havendo clareiras na aula, o professor de ginástica nem fazia a chamada e não marcava falta. Claro que se faltasse muita gente ele notava e socorria-se do livro de ponto (o desgraçado do tipo que carregava o livro de ponto tramava-se sempre porque não podia gazetar, não era realmente dos cargos mais amados...).
E, pior, se faltasse tanta gente que não possibilitasse sequer quórum suficiente para se organizarem equipas para jogos de basquetebol ou de andebol, o velho Câmara Pestana encaminhava-nos para a odiosa sala de ginástica, obrigando-nos a trepar por aquelas malfadadas cordas e sujeitando-nos a tratos de polé que ainda hoje me causam pesadelos e calafrios. De forma que a combinação prévia sobre quem e quantos faltavam evitava também que os presentes sofressem suplícios aterradores e era igualmente uma forma de respeitar os outros, os cumpridores.
Hoje já não é assim. Hoje perdeu-se tudo, a começar pelo respeito pelos outros. Dizem-me os garotos que faltou mais de meia turma à aula de ginástica, só para irem para casa mais cedo descansar no fim-de-semana. Os desgraçados que foram à aula não puderam formar equipas nem para organizar um jogo de berlinde. Parece que nem foram de castigo às malditas cordas e demais adereços hediondos. Apenas nada tinham que fazer.
Nós, contribuintes, ficamos a pensar porque estranho motivo se pagará tanto e a tantos, porque se gastarão enormidades em edifícios, condições agradáveis, contínuos e demais pessoal se a rapaziada animada e brincalhona trata com tamanha desconsideração as condições que lhes oferecemos e mesmo os seus próprios pares.
Até se perceberia a atitude na adolescência mas não numa idade que se presume adulta.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.