O CARTEIRO: O tipo atropelou-me a Marta e os miúdos numa passadeira, sobreviveu o mais novo qual missanga desenfiada. No julgamento, não foi dado como provado que a Marta tenha posto o pé na zona de protecção antes de o gajo se poder imobilizar no espaço livre e visível à sua frente. Ainda por cima o tipo mostrou-se muito combalido, exibindo 33 relatórios de psis a comprová-lo. Deixei passar seis meses. Entreguei a criança sobrevivente a um tio, aluguei um casório nos arrabaldes e desapareci de cena. Fui a um leilão dos Correios e comprei uma farda antiga. Rapei o cabelo, engordei dez quilos, cresci o bigode e assim protegido, vigiei-lhe os passos. No dia certo, com uma resma de papeis debaixo do braço, toquei-lhe à campainha. Quando abriu a porta mil anos de raiva estoiraram-lhe o nariz: caiu redondo. Fechei a porta e sentei-o no sofá da sala; enquanto o tipo tentava voltar a si, despejei-lhe gargomilo abaixo um punhado de Dormicum dissolvido em água. Esperei uma hora e comecei o trabalho: cortei-lhe todas as falangetas que recolhi num frasco com conservante e esmaguei-lhe todos os dedinhos dos pés com um martelo. Ainda hoje lhe envio, no início de cada mês de 31 dias, uma falangeta remetida de uma estação dos correios. Quando acabarem as ditas, volto pelos dedinhos dos pés, já maduros da faisandage.
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