SÉRIE "OS EUA E O NARCOTRÁFICO" (I): A publicação anual ( normalmente na Primavera como foi o caso este ano) dos relatórios do Departamento de Estado e da Casa Branca marca a análise mundial do problema. Nesta altura marca mais, pese o relativo desinteresse em Portugal da imprensa e das agências oficiais especializadas. A situação no Crescente de Ouro ( Irão, Afeganistão e Paquistão) está como está, e a (já aqui referida) atlantização do tráfico de cocaína modificou o estatuto anterior: decréscimo do consumo europeu de heroína - em favor da cocaína e de sintéticos - e surgimento de uma nova zona de preocupação, a África Ocidental, como entreposto da cocaína sul-americana. O relatório do Departamento de Estado, o International Narcotics Control Strategy Report ( INCSR), publicado em Março de 2006, e o documento da Casa Branca, o National Drug Control Strategy publicado um mês antes, são de imprescindível leitura para quem queira acompanhar a situação mundial. É que, ao contrário dos relatórios do INCB e do UNDOC, aqueles são documentos comprometidos: com a política americana, com tudo o que isso significa em termos de actuação e não apenas de mera descrição do cenário. E os EUA são, desde o início da II Guerra Mundial, o país que regula e comanda a geopolítica da droga. Para já, uma chamada de atenção para a aparente discrepância entre factos: o INCSR e o relatório da Casa Branca orgulham-se do sucesso da política americana na Colômbia, mas alguma imprensa e alguns especialistas apontam o seu falhanço. Vale a pena ver a coisa de perto, até porque a produção colombiana ( de cocaína, não de coca) tem hoje um impacto europeu maior do que tinha anos atrás. Aparentemente, os EUA gastaram já 4 biliões de dólares em ajuda à Colômbia desde 2000. Este dinheiro, gerido pelo pelo CD-BDE ( Colombian Army Counter Drug Brigade) e pelo DIRAN ( Directorio Anti-Narcotico), financia o baptizado Plan Patriota; o objectivo é formar magistrados e investigadores ( mais de 17.000 já receberam formação especializada) e custear meios militares, sobretudos aéreos ( helicópteros Blakhawk), utilizados nos programas de pulverização dos campos de coca. Parte deste dinheiro também tem sido utilizado para a reconversão dos cocaleros em "pacíficos" camponeses. Desde 2000 que os EUA, através da DEA, da CIA, da Casa Branca e do Departamento de Estado, reinvindicam vitórias sucessivas: redução da área afectada à plantação de coca, eliminação intensiva de laboratórios primários e secundários, detenção de traficantes e narco-guerrilheiros. O problema está nos números deste ano: o Houston Chronicle publicou, fez hoje oito dias, uma nova estimativa da Casa Branca - posterior à publicação do relatório anual - segundo a qual a Colômbia tinha aumentado em 3.700 he a área total de plantação de coca. Em certos meios - hostis à actual administração - isto constitui um falhanço da estratégia norte-americana. Não me parece: nos mesmos meios reconhece-se, sem esforço, que em 2005 foram confirmadamente destruídos 138.775 he de plantação de coca. No próximo post tentaremos demonstrar por que motivo os norte-americanos, estando a conduzir uma política de droga eficaz e bem pensada ( na Colômbia...), poderão estar relativamente próximos do fracasso.
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