BONS TEMPOS: Que tipo de relação existe entre as dificuldades éticas da política ocidental e a civilização-pânico ( termo roubado a Sloterdijk) que ela tem amassado? * Ao mundo alternativo - o comunismo de estado - sucedeu o mundo catastrófico, declinado na variante natural - buraco de ozono, água, etc - e na variante política - Islão fundamentalista, globalização, declínio da natalidade, etc. As catátrofes actuais revelam essa dualidade: Tchernobyl ( no lusco-fusco comunista), Katrina, Tsunami, mas também o 11 de Setembro e o Irão nuclear. Não sei o que Fr. João dos Santos pensava quando, em finais do século XVI, passeava em Moçambique e se escandalizava com os costumes canibais do mumbos, lá para as bandas de Tete. Uma coisa é certa: não temia a catástrofe às suas mãos - leia-se, às mãos da cristandade. Alguns tipos aborrecidos - Heidegger, Nietzsche - foram-nos dizendo que a decomposição da verdade implicaria uma reconstrução total. O século XX pode ter feito parte dessa tentativa de reconstrução: comunistas e nazis, cada um à sua maneira, bem tentaram. Mas os pedreiros foram despedidos e os remendos subsistiram. Das terras médias vem, de novo, um apelo à salvação: um livro, uma verdade e profetas belicosos. Um minúsculo estado europeu, alojado nas entranhas de Roma, já percebeu e tenta reagir . Depositário do último resquício de solidez ocidental, desespera porque já não tem súbditos. As ideias e a fé, sem gente para ler as primeiras e sentir a segunda, são uma agonia suave. O pânico e a profecia legitimam hoje um olhar oblíquo sobre a nossa obra. Se é verdade que qualquer um capaz de contar até três pode ser um Nostradamus, isso significa que já não prevemos nada; não aprendemos com os nossos erros, somos os nosso erros.
* A aproximação de Bush ao novo - Kadafy - ex - Lockerby é um bom exemplo.
Muito bom, mas um pouco apocalíptico. Se o minúsculo Estado europeu é o que eu estou a pensar, não estou certo de que não tenha súbditos. Parce-me que eu, pelo menos, sou um deles. P.S. Ainda bem que os pedreiros-reconstrutores falharam. Aliás, costumam falhar. O homem velho é batante resisitente, graças a Deus.
Nuno: tu é que és o presidente desta Junta. Pedro: a intenção não era o tom apocalíptico, logo não me expliquei bem; tencionava voltar ao tema, portanto emendarei a mão.
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