SÉRIE "OS EUA E O NARCOTRÁFICO" (III)/ Nº especial EVO MORALES: O senhor Evo Morales, agora nas bocas do mundo, é um velho conhecido dos interessados na geopolítica da cocaína. Aconselho a que o levem a sério. Pela minha parte, acompanho as suas peripécias desde 2002, altura em que em nome dos cocaleros fez uma greve de fome diante da Central Union, em Cochabamba. Tudo começou com a ideia do então presidente, Jorge Quiroga, de publicar o Decreto nº 26415, que passava a interditar a comercialização da coca do Chapare. Esta zona, juntamente com a de Yungas, constitui a reserva de coca da Bolívia. Morales opôs-se com base em dois argumentos:
a) Mastigar folhas de coca é património histórico e cultural dos bolivianos. b) O Decreto servia a agenda dos americanos e das multinacionais que pretendiam transformar camponeses livres em assalariados agrícolas.
É evidente que a produção boliviana de coca não se destina apenas aos dentes dos velhos bolivianos: em 2004 a Bolívia produziu 18% do total de folha de coca, com um farmgate price de 128 milhões de dólares. Por outro lado, quando Morales, em entrevista ao NarcoNews de Fevereiro de 2002, diz que o Decreto "es uno atentado directo a la liberdad y a la cultura boliviana", não está a dizer tudo. Essa é a língua de pau. A verdade é que, nos meios marxistas ( na própria publicação à qual ele deu essa entrevista), o que se diz é que a cocaína é um "problema dos decadentes gringos capitalistas". É parcialmente verdade. Os cocaleros não têm grande futuro se ficarem nas mãos dos narcotraficantes, até porque no final da cadeia estão os gringos capitalistas. Mas isso fica para outra ocasião. O plano americano para a Colômbia, ao qual já me tenho referido, foi, de certo modo, bem sucedido. As razões pelas quais alvitro o fracasso, a longo prazo, desse plano, inclui - mas não só - a existência de figuras como Morales. Como é bom de ver, tanto a Bolívia como o Peru têm potencialidades para substituir a produção colombiana afectada pelo Plan Patriota. No Peru, José Flores "Artemio", antigo comandante do Sendero Luminoso ( ainda à solta) está, em conjunto com outros camaradas, a reorganizar a produção de coca no vale do Apurimac e no Alto Huallaga. Um dos promotores desta iniciativa, Nelson Palomino, que foi preso em Fevereiro de 2003, pode a breve trecho vir a ser um novo Evo Morales. Morales mais parece um Gramsci sul-americano quando diz que ninguém esperava que os cocaleros fossem tão "fuertes no solo orgánicamente sino idelologica e culturalmente". Nos próximos posts desta série, tentaremos enquadrar a linha da frente marxista-cocalera que se opõe à estratégia norte-americana anti-droga. Demonstraremos também, espero, os pés de barro da dessa estratégia: não valerá de muito os EUA financiarem a reconversão de campos de coca em campos de milho e batata, se eles próprios continuarem a consumir cocaína, bem melhor paga do que esses produtos.
estava aqui já de faca afiada a pensar que te ias esquecer da última frase, pois, a última frase é que verdadeiramente conta. de todo o modo o post tem erros, linha 10 a contar do fim, "vira", não, o evo morales não dança vira
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