BOMBISTAS SUICIDAS OU BOMBAS HUMANAS? A discussão está a ser lançada por Nichole Argo, investigadora do IMT. Nichole está a preparar o doutoramento trabalhando em Israel e na Faixa de Gaza e lançará brevemente um livro. Ou muito me engano ou fará correr muita tinta. O seu objectivo é destruir o elo de ligação entre o terrorismo e o extremismo religioso. Começou pelos "bombistas suicidas", designação que rejeita. Até agora tem divulgado algumas conclusões no alaraboline que são muito discutíveis. Nichole acha um erro chamar suicidas a indivíduos muito bem integrados na esfera social e "altruisticamente comprometidos" com a vida . Nichole recusa a ligação Islão-Terror: fazendo a história dos mártires, entende que até 2003, 95% dos casos foram motivados pela auto-defesa (Líbano, 1ª Intifada, etc) , não estando relacionados com a exaltação religiosa. Por outro lado, apresenta o caso paquistanês: as 10.000 madrassas existentes exportaram os seus mártires para o Afeganistão, onde a luta ainda decorre. A tese de Nichole passa por valorizar a motivação política e emocional em detrimento do papel do Islão doutrinador de violência. A tese de Nichole assenta na defesa da comunidade sob ameaça como a principal motivação para os ataques suicidas, pois entende que mesmo os líderes religiosos mais fanáticos não conseguiriam chegar "às pessoas normais", que se transformam em bombas humanas, sem um sedimento social e prático. Esse sedimento é a pobreza, a destruição, a humilhação, etc, etc. Nichole cita um palestiniano que lhe explicou o meandro da coisa: " If we don't fight, we will suffer. If we do fight, we will suffer, but so will they."Podemos desconfiar do alibi que Nichole arranja para o fanatismo religioso, mas ela tem alguma razão nas dúvidas que levanta. Onde Nichole escorrega ( para não dizer outra coisa), e entra até em contradição com a explicação do palestiniano, é quando declara ser subjectiva a improbabilidade estatística de ataques suicidas em países com liberdade de expressão. Declara ser compreensível, do ponto de vista da tal "defesa da comunidade", a atitude de Mohamad Khan ( líder dos bombistas londrinos) que dizia : "tenho que utilizar bombas porque os ocidentais não me ouvem". Original, sem dúvida.
Parece-me muito interessante e provavelmente acrescentará algo sobre a questão palestina. Mas original não é. Há anos que há quem argumente que a ideia de que ligar ataques terroristas suicidas necessariamente ao fundamentalismo religioso é um erro. E que pode ser tacticamente uma opção perfeitamente racional. Até em Portugal houve um ou outro texto a chamar a atenção para isso. Entre os melhores exemplos recentes deste tipo de análise estratégica do terrorismo suicida está o livro de Robert Pape, Dying to Win.
Filipe peço sinceras desculpa pelo Francisco. (É o que dá usar siglas! Isso, e dar-me para escrever comentários a des-horas!)
Sim, admito que sim, que possa ter interpretado a originalidade em sentido demasiado lato.
Em todo o caso, este poste e um outro do Paulo Gorjão levaram-me a pensar numa biblioteca de verão do Bom Terrorista, talvez leve a ideia para diante. Pode ser que assim se entretanham a ler e nos deixam em paz por Londres.
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