EM DEFESA DA PEQUENA BURGUESIA: Cresci rodeado de pessoas que não eram outra coisa, mas cresci a ouvir falar mal dela. Ainda hoje vejo, divertido, como a herança custa a sacudir: cosmopolitas que se zangam por meia dúzia de euros, meninas que cavam na notoriedade das revistas antigos métodos de ascensão social. A expressão hoje tem outros contornos, se bem que o essencial continue: suburbana, passeia nos centros comerciais aos domingos, devora novelas e bola, espeta o dedinho a beber a bica, passa férias na Quarteira, lê Sousa Tavares e põe a bandeira à janela. Pois gosto dela, da pequena burguesia. É gente que trabalha para obter o que tem, o que desde logo é uma virtude. Não recebe heranças nem conhece jornalistas ( se bem que muitos deles não consigam a disfarçar a proveniência), o que a faz gostar de viver as vidas dos outros. Compreensível. É gente que desconfia das grandes mudanças planeadas por teóricos alucinados, preferindo viver a pacata vidinha. Esta pacata vidinha é soberbamente desdenhada pelos frequentadores de livrarias virtuais e de peças urbano-depressivas. É gente mole, carneirenta, agarrada à TV e que palita os dentes. Seja. Esta gente está condenada a um Círculo não descrito pela hiena que poetiza nos túmulos: já se ergueu acima das necessidades do saneamento básico mas ainda não se doutora em Paris. São os novos proletários e alimentam-nos.
Não há verdades de La Palice. Há é coisas óbvias mas depois, tudo depende de quem as diz. Estas (óbvias observações) têm uma frescura que quase as torna novidade. Mas é só por virem de quem vêm. E são do mais ternurento que há!
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.